Novos artistas alemães conquistam mercado mundial da arte
Tim Eitel pinta figuras de um mundo resignado
Em vez de conceitualismo, videoarte e instalação, foi o realismo figurativo que garantiu a penetração dos novos artistas alemães, após a queda do Muro, no mercado mundial da arte.
A partir do início dos anos de 1990, o mundo experimentou o fenômeno que ficou conhecido por revolução digital. Para acompanhar o desenvolvimento dos novos meios, foram inauguradas, na Alemanha, escolas como a Academia de Arte e Mídia (KHM), em Colônia, e o Centro de Arte e Mídia (ZKM), em Karlsruhe.
No entanto, em vez do esperado desenvolvimento em direção à videoarte ou à instalação, a arte alemã, a partir da última década do século 20, foi marcada pelo ressurgimento da pintura figurativa como forma de expressão artística e pela fusão da arte com a fotografia, cujo valor de mercado passou a se igualar ao das obras de pintura.
Entre os principais representantes da nova geração de fotógrafos alemães, estão Candida Höfer, Thomas Struth, Thomas Ruff e Andreas Gursky. Na pintura, destacam-se principalmente jovens artistas da pintura figurativa, como Neo Rauch, Tim Eitel, Norbert Bisky e Sophie von Hellermann, entre outros.
Após a reunificação da Alemanha, em 1990, observou-se também o deslocamento do eixo artístico situado entre Colônia e Düsseldorf em direção ao Leste do país. Berlim despontou como pólo atraente de artistas e galerias e, com o ressurgimento da pintura figurativa realista, Leipzig tornou-se uma das principais metrópoles artísticas do país.
Melancolia pós-hedonista
Artistas alemães consagrados, como Gerhard Richter, Sigmar Polke e Rosemarie Trockel chegaram ao século 21 como os mais bem cotados artistas do mundo, segundo o ranking da revista alemã de economia Capital.
No entanto, a ascensão da nova arte alemã no mercado internacional, a partir dos anos de 1990, deveu-se, tanto na fotografia como na pintura, à preferência que o mercado de arte norte-americano passou a dar aos jovens artistas alemães.
Além do caráter representativo de lifestyle que a arte assumiu, nos últimos anos, as razões deste sucesso se encontram na reação estética provocada pela revolução digital na pintura e na fotografia e nos temas abordados pelos novos artistas.
Poucos são os fotógrafos que não trabalharam suas fotos em computadores, poucos são os pintores que não pintaram suas telas a partir de fotografias. A arte alemã da virada do século tematizou a globalização, a melancolia pós-hedonista, o esvaziamento do espaço público e a história alemã a partir de 1989.
Andreas Gursky e outros artistas
Figurativa e realista, a pintura se aproximou do Realismo Socialista, desponjando-a de qualquer ameaça intelectual. A fotografia, resgatada como expressão artística, retratou subúrbios desolados, fachadas industriais sombrias, retratos enormes e paisagens longínquas e vazias. Sobretudo os alunos de Bernd e Hilla Becher, na Academia de Belas-Artes de Düsseldorf, despontaram no mercado internacional.
Nomes como Candida Höfer, Andreas Gursky, Thomas Struth e Thomas Ruff conseguiram elevar o valor da fotografia ao das obras de pintura. Em 2007, o díptico 99 Cent II, de Andreas Gursky, foi leiloado em Londres por 1,7 milhão de libras (cerca de 2,3 milhões de euros).
Esta é uma cifra impressionante, se considerarmos que o curso de Fotografia da Academia de Belas-Artes de Düsseldorf, o primeiro da Alemanha, foi instituído somente no início dos anos de 1970 e que, até o início da década de 1980, o público especializado ainda discutia o valor artístico da fotografia colorida.
Despojada de qualquer mensagem
Entre os novos pintores, destacam-se os artistas do grupo em torno de Neo Rauch, denominado de Neue Leipziger Schule ou Nova Escola de Leipzig, oriundos da Academia de Artes Visuais de Leipzig.
Escola de Leipzig foi o nome cunhado para os artistas da cidade que expuseram na documenta 6, em 1977, cuja pintura era figurativa e engajada. Mesmo depois da queda do Muro, Arno Rink, aluno destes pintores, continuou a ensinar técnicas da pintura clássica na Academia de Artes Visuais de Leipzig. Rink formou a segunda geração da Escola de Leipzig.
Tecnicamente perfeita, mas despojada de qualquer mensagem e com motivos que lembram o Romantismo, a terceira geração da Escola de Leipzig ficou conhecida como Nova Escola de Leipzig.
Televisão, computador, internet
Entre os mais célebres representantes deste novo realismo da Academia de Artes Visuais de Leipzig, estão Neo Rauch e Tim Eitel. Em seus quadros, Rauch retrata a convivência pacífica de trabalhadores socialistas, nostálgicos postos de gasolina e figuras de história em quadrinhos. Tim Eitel aposta na contemplação serena de suas figuras realistas que parecem meditar num pano de fundo abstrato.
Norbert Bisky, que nasceu em Leipzig mas estudou em Berlim, consegue unir o homoerotismo ao Realismo Socialista ao retratar garotos louros que brincam sobre dunas.
A bávara Sophie von Hellermann, uma das poucas artistas que não pinta a partir de fotografias, mistura cenas de seu mundo pessoal com personagens da literatura, do cinema ou da história.
Estes jovens artistas incorporam a mudança de paradigma da cultura analógica para a cultura digital. Se, para alguns, sua mescla de mistério e cultura pop é motivo de críticas, para outros, é a fonte de onde bebe a nova arte. Sem ideologias, eles retratam a atualidade de um mundo resignado e sem perspectivas.
Eles mesmos são filhos da cultura de consumo pós-moderna e do capitalismo digital. Aprenderam a perceber a realidade não a partir do objeto real, mas através da televisão, do computador, da internet. Sua obra espelha o desejo de uma geração jovem – que muitos chamam de conservadora – por segurança, por ideais românticos, por laços sociais e por comunicação, em tempos de extremo individualismo.
Carlos Albuquerque
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