quarta-feira, 25 de junho de 2008

Bullying envolve 65% dos alunos


Quase dois terços dos alunos (64,7%) do 3º ciclo da Grande Lisboa estão envolvidos em fenómenos de bullying, de acordo com um estudo divulgado ontem na 4ª Conferência Internacional sobre Violência Escolar e Políticas Públicas, a decorrer até amanhã em Lisboa.
A investigação conduzida pela psicóloga Sónia Seixas, da Escola Superior de Educação João de Deus, envolveu 680 alunos dos 7º, 8º e 9º anos de 11 escolas de Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Sintra. Dos inquiridos, apenas 35,3 por cento disseram não estar envolvidos em bullying, enquanto 30,1% dizem ser vítimas, 11,6% se assumem como agressores e 23% apresentam um padrão misto. O estudo conclui que as vítimas têm níveis mais baixos de auto-estima, sentem-se rejeitados e têm pouca confiança em si, enquanto entre os agressores se passa exactamente o oposto.
'É preciso sensibilizar a escola para este fenómeno, que causa grande sofrimento. Em última análise, as vítimas pensam no suicídio', alertou Sónia Seixas.
Na sessão de abertura da conferência, que trouxe a Lisboa especialistas de 51 países, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou que a violência escolar é um fenómeno residual, frisando que '90 por cento dos casos ocorre em cinco por cento das escolas'. A governante sublinhou ainda que não se pode confundir 'violência com indisciplina'.OpsiquiatraDaniel Sampaio refutou a ideia da ministra: 'Quando se diz que indisciplina nada tem a ver com violência não estamos no bom caminho. A indisciplina cria condições favoráveis ao aparecimento de violência.'
Já o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que nos últimos meses denunciou a violência escolar, reafirmou que o fenómeno não pode ser ignorado, mas considerou que 'a situação é hoje melhor do que há um ano', destacando o aumento do número de denúncias.
QUAIS OS SINAIS DE ALARME
A investigadora Sónia Seixas aponta diversos sinais a que os pais, professores e funcionários das escolas devem estar atentos para detectar casos de bullying. No caso das vítimas, os livros, o material escolar e outros bens aparecem muitas vezes estragados ou desaparecem. Ferimentos, cortes, arranhões ou danos na roupa podem também ser sinais de bullying. Muitas vezes são alunos isolados nos intervalos, que podem procurar mais a proximidade com o professor ou com outros adultos. Receosos de ir à escola, têm queixas frequentes de dores de barriga ou de cabeça e manifestam pouco interesse pela escola.
Os agressores revelam muitas vezes raiva descontrolada, são impulsivos e zangam-se facilmente; Retiram satisfação do medo que provocam às vítimas, gostam de provocar os pais e os professores e envolvem-se precocemente em comportamentos anti-sociais.

NOTAS
O QUE É O BULLYING
Conceito que descreve actos de violência física ou psicológica de carácter sistemático que causam sofrimento físico ou emocional.
REALIDADE ESCONDIDA
Bullying não-físico passa despercebido e as queixas são poucas
Bernardo Esteves