sábado, 29 de dezembro de 2007

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Cultura: Morreu pintor Miguel D`Alte




Miguel D`Alte nasceu em Braga em 1954 e fez o Curso Geral de Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto.
O pintor, apoiado pela Cooperativa Árvore entre 1992 e 2000, participou pela primeira vez numa exposição colectiva em 1975.

Títulos Cultura (Agência Lusa)

Cinema: São Jorge dedica ciclo à emigração portuguesa, de 05 a 08 de Janeiro

Lisboa: Pedro Abrunhosa e Tito Paris no "réveillon" no Terreiro do Paço

Cultura: Morreu pintor Miguel D'Alte

Museus: Serralves ultrapassa 350.000 visitantes e bate recorde histórico

Design: Logótipo da Casa da Música é a identidade visual de 2007 para o International Herald Tribune

Cinema: Comédia protagonizada por uma abelha domina filmes em Portugal

Música: Rodrigo Leão & Cinema Ensemble esgotam S. Luiz e apresentam "Os portugueses" em Março em Sintra

Madeira:Programa comemorativo dos 500 anos do Funchal pensado para perdurar no tempo

Artes: Teatro Plástico estreia 'Catástrofe', de Samuel Beckettt, a 4 de Janeiro no Porto

Algarve: Fim-de-ano vai ser nas ruas e com música para todos os gostos

TSUNAMI



Tsunami fatídico foi há 3 anos
Países asiáticos recordam vítimas da tragédia de 2004.
As populações da Tailândia, Indonésia, Sri Lanka e Índia homenagearam quarta-feira passada as vítimas do tsunami no Oceano Índico que a 26 de Dezembro de 2004 provocou mais de 200 mil mortos em vários países.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007


Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,de falar e de ouvir com mavioso tom,de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.É dia de pensar nos outros — coitadinhos — nos que padecem,de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.Comove tanta fraternidade universal.É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,como se de anjos fosse,numa toada doce,de violas e banjos,entoa gravemente um hino ao Criador.E mal se extinguem os clamores plangentes,a voz do locutoranuncia o melhor dos detergentes.De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético.(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar. E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimentoe compra — louvado seja o Senhor! — o que nunca tinha pensado comprar.Mas a maior felicidade é a da gente pequena.Naquela véspera santa a sua comoção é tanta, tanta, tanta,que nem dorme serena.Cada menino abre um olhinho na noite incerta para ver se a aurora já está desperta.De manhãzinha,salta da cama,corre à cozinhamesmo em pijama. Ah!!!!!!!!!!Na branda maciezada matutina luzaguarda-o a surpresado Menino Jesus. Jesus o doce Jesus,o mesmo que nasceu na manjedoura,veio pôr no sapatinho do Pedrinho uma metralhadora.Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,fuzilava tudo com devastadoras rajadase obrigava as criadas a caírem no chão como se fossem mortas:Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.Já está!E fazia-as erguer para de novo matá-las.E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam que caíam crivados de balas.Dia de Confraternização Universal,Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,de Sonhos e Venturas.É dia de Natal.Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.Glória a Deus nas Alturas.António Gedeão

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

REFLEXÃO: Educação Colectiva Não Funciona


A nossa política educacional baseia-se em duas enormes falácias. A primeira é a que considera o intelecto como uma caixa habitada por ideias autónomas, cujos números podem aumentar-se pelo simples processo de abrir a tampa da caixa e introduzir-lhes novas ideias. A segunda falácia, é que, todas as mentes são semelhantes e podem lucrar como o mesmo sistema de ensino. Todos os sistemas oficiais de educação são sistemas para bombear os mesmos conhecimentos pelos mesmos métodos, para dentro de mentes radicalmente diferentes. Sendo as mentes organismos vivos e não caixotes do lixo, irremediavelmente dissimilares e não uniformes, os sistemas oficiais de educação não são como seria de esperar, particularmente afortunados. Que as esperanças dos educadores ardorosos da época democrática cheguem alguma vez a ser cumpridas parece extremamente duvidoso. Os grandes homens não podem fazer-se por encomenda por qualquer método de ensino por mais perfeito que seja.
O máximo que podemos esperar fazer é ensinar todo o indivíduo a atingir todas as suas potencialidades e tornar-se completamente ele próprio. Mas o eu de um indivíduo será o eu de Shakespeare, o eu de outro será o eu de Flecknoe. Os sistemas de educação prevalecentes não só falham em tornar Flecknoes em Shakespeares (nenhum método de educação fará isso alguma vez); falham em fazer dos Flecknoes o melhor. A Flecknoe não é dada sequer uma oportunidade para se tornar ele próprio. Congenitamente um sub-homem, ele está condenado pela educação a passar a sua vida como um sub-sub-homem. Aldous Huxley, in 'Sobre a Democracia e Outros Estudos'

QUEREMOS HOMENS COMPLETOS OU MEROS CIDADÃOS?

A educação actual e as actuais conveniências sociais premeiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.
A insistência nas qualidades socialmente valiosas da personalidade, com exclusão de todas as outras, derrota finalmente os seus próprios fins. O actual desassossego, descontentamento e incerteza de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentámos fazer homens bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento em não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos extremamente maus. Há toda a razão para supor que o mundo se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais complicadamente arregimentado do que é presentemente; que graus cada vez mais elevados de especialização serão requeridos dos homens e mulheres individuais. O problema de reconciliar as reivindicações do homem e do cidadão tornar-se-á cada vez mais agudo. A solução desse problema será uma das principais tarefas da educação futura. Se irá ter êxito, e até mesmo se o êxito é possível, somente o evento poderá decidir. Aldous Huxley, in 'Sobre a Democracia e Outros Estudos'

Fim da participação democrática nas escolas?

O que mais salta à vista do recente projecto de decreto-lei, ainda para consulta pública, que define o Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário, vem na sequência lógica da desvalorização do papel essencial dos professores quer ao nível das suas funções científico - pedagógicas quer ao nível da confiança pública de uma profissão que é a base do desenvolvimento de qualquer país.
Actualmente, o órgão de gestão das escolas é eleito por professores, pais, pessoal não docente e alunos (no ensino secundário). Do que se ouviu do discurso do Primeiro-ministro, o Governo propõe-se substituir esta eleição por um concurso público.
O modelo anunciado pelo Primeiro-ministro aponta também para uma concentração de poderes num órgão unipessoal, contrariando uma cultura de colegialidade e participação democrática de todos os que se envolvem no quotidiano escolar.
De acordo com o documento, é criado o Conselho Geral, um órgão que terá, no máximo, 20 membros, sendo constituído por professores, funcionários não docentes, encarregados de educação e representantes da autarquia e da comunidade local. Diz ainda o documento que os professores nunca poderão estar em maioria no Conselho Geral. O projecto de decreto-lei estabelece que a sua representação não poderá ser inferior a 30 por cento nem superior a 40 por cento da totalidade dos membros. Colocar os professores em clara minoria no Conselho Geral, o órgão que passará a traçar as linhas orientadoras de cada agrupamento e que tem nas mãos o poder de nomear e demitir a recém-criada figura do director de escola, órgão unipessoal de gestão, parece negar confiança e capacidades aos professores pois impede que um docente possa estar à frente de um órgão decisivo como o Conselho Geral. A preocupação não é partilhar o poder com os pais e autarcas, mas retirar qualquer poder aos professores. Uma escola não pode nem deve ser vista como uma empresa, o seu funcionamento principal tem de assentar no interesse pedagógico.
Analise-se as competências que o Conselho Geral tem (a maioria delas com um peso crucial para o desenvolvimento do processo de ensino – aprendizagem dos alunos) onde os docentes estão em minoria para decisão. Para que servem as competências técnico – pedagógicas dos professores, se uma maioria sem essas competências é quem decide?
Artigo 11.º
Conselho Geral
1 – O Conselho Geral é o órgão de direcção estratégica responsável pela definição das linhas
orientadoras da actividade da escola.
Artigo 13.º
Competências
1 – Ao Conselho Geral compete:
a) Eleger o respectivo presidente, de entre os representantes das autarquias, dos pais e
encarregados de educação ou da comunidade local;
b) Seleccionar e eleger o director, nos termos dos artigos 21.º a 23.º do presente decreto-lei;
c) Aprovar o projecto educativo e acompanhar e avaliar a sua execução;
d) Aprovar o regulamento interno do agrupamento de escolas ou escola não agrupada;
e) Emitir parecer sobre o plano anual de actividades, designadamente para efeitos de verificação
da sua conformidade com o projecto educativo;
f) Apreciar os relatórios periódicos e o relatório final de execução do plano anual de
actividades;
g) Aprovar as propostas de contratos de autonomia, ouvido o conselho pedagógico;
h) Definir as linhas orientadoras para a elaboração do orçamento;
i) Aprovar o relatório de contas de gerência;
j) Apreciar os resultados do processo de avaliação interna;
l) Pronunciar-se sobre os critérios de organização dos horários;
m) Acompanhar e fiscalizar a acção dos demais órgãos de administração e gestão;
n) Promover o relacionamento com a comunidade educativa;
o) Exercer as demais competências que lhe forem atribuídas na lei e no regulamento interno.
Artigo 21.º
Recrutamento
1 – O director é eleito pelo Conselho Geral.
Artigo 25.º
Mandato
1 – O mandato do director tem a duração de três anos.
2 – Até sessenta dias antes do termo do mandato do director, o Conselho Geral delibera sobre
a recondução do director ou a abertura do procedimento concursal tendo em vista a eleição
deste.
3 – A decisão de recondução do director é tomada por maioria absoluta dos membros do
Conselho Geral em efectividade de funções, não sendo permitida a sua recondução ou eleição
para um quarto mandato consecutivo, nem durante o triénio imediatamente subsequente ao
termo do terceiro mandato consecutivo.
4 – Não sendo ou não podendo ser aprovada a recondução do director de acordo com o
disposto nos números anteriores, abre-se o procedimento concursal tendo em vista a eleição do
director, nos termos do artigo 22.º
5 – O mandato do director pode cessar:
a) A requerimento do interessado, dirigido ao director regional de Educação, com a
antecedência mínima de 45 dias, fundamentado em motivos devidamente justificados.
b) No final do ano escolar, por deliberação do Conselho Geral aprovada por maioria de dois
terços dos membros em efectividade de funções, em caso de manifesta desadequação da
respectiva gestão, fundada em factos comprovados e informações, devidamente
fundamentadas, apresentados por qualquer membro do Conselho Geral;

DIÁRIOS (EDUCAÇÃO VISUAL/TEP): Para Pensar...

http://www.fenprof.pt/Download/FENPROF/M_Html/Mid_179/Anexos/REGIME_JURIDICO_GESTAO.pdf

Para Pensar...


"A educação é a coisa mais conhecida de todos, e justamente por isso, a mais desconhecida de todos, por todos"(D. Hameline)


Isto vem a propósito de uma primeira leitura ao Projecto de Decreto Lei do novo "Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré - Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário".

Quem Pinta Pinta-se


josé Vieira
DA MINHA ARTE
O que me agarrou neste desafio foi o facto de eu não andar longe de uma arte comprometida politicamente. Não pertenço à família dos contemplativos, daqueles para quem “a pintura interessa muito mais do lado do seu silêncio do que do seu grito”, estou mais do lado dos que apostam na sua expressividade, do lado da afirmação vivida.Não pinto para entender o que vejo. O que vejo não é da ordem somente dos sentidos, socorro-me deles, pela apreensão com uma espécie de intenção subtil que descobre e denuncia nas coisas/acontecimentos que me rodeiam. Quero fazer sentir mais do que ver como coisa dizível, o que pode levar tempo a interiorizar, a perceber por detrás da película dos signos e das imagens que se interpõem entre o nosso olhar e a coisa plástica. É preciso saber, é preciso agir, intervir, para que o humano se torne humano. Da minha pintura espero o grito, o alerta.A minha pintura não é por isso, mais um sereno contemplar do mundo, das pequenas variações das coisas mas de uma relação feliz/amargurada, tensa, com esse mesmo mundo. Por isto o meu processo pictórico é lento, meditativo, explorativo, interiormente elaborado como um trabalho de destapar, de tornar visível o visível camuflado. Apelo para que a contaminação e os excessos da visibilidade camuflada se tornem claros, entendíveis.É uma pintura feita de uma espécie de “amanhecendo” no sentido de aparecimento, não pecando pelo excesso do visível mas a subtil sugestão do visível/invisível, da dificuldade de ver.Qualquer pintor que, em vez de olhar apenas para si mesmo, olhar para o mundo em volta, apercebe-se, que ver é o que é mais difícil, embora estejamos rodeados da imagem por excelência. Interessa-me a pintura como forma de perscrutação de tudo o que me rodeia, para ir sempre um pouco mais além do que se torna imediatamente visível, para penetrar naquilo que só vê quando nos detemos firmemente, criticamente a contemplar, meditando, verificando o que não é da ordem da evidência mas, também, de uma espécie de silêncio e de encobrimento, de alma subtil ou de pulsação profunda, que só se pode revelar através de muita reflexão, do muito olhar.Por isto, tento registar o possível, em estridência, sem se oferecer como uma pintura surda, apostando numa estética que se compraz com o grito. Toda a pintura, a um certo nível é audível e por vezes só nos apercebemos de um rumor vago. Eu quero-a de uma expressão próxima não do silêncio, mas do grito profundo ecoando na manhã do mundo para que espreguice dos homens a cegueira material. Um mundo super habitado, de super produção por um lado e de desertificação e morte por outro.Quero que para além do azul, amarelo e vermelho vejam sempre uma outra cor, a dos espelhos que já não têm reflexos, a dos que reflectem outras coisas, que reflectem mais além do que o silêncio.Instauro no processo de ver o mundo uma noção que torne visível também os invisíveis ou seja os anónimos.

A Arte: de que se trata?

A presente reflexão a partir de uma sondagem, embora pequena, pretende responder, dar indícios à questão: “A Arte: de que se trata?”. Foram feitos inquéritos, distribuídos pela população feminina e masculina. Diferenciou-se também a faixa etária, optando-se por um intervalo dos 18 aos 25 anos e outro dos 50 aos 60 anos.
Começo por referir que foi com alguma surpresa que observei a dificuldade com que a maioria dos inquiridos tiveram em responder às questões. Não sei se por falta de hábito se pelo próprio tema em questão. Mas verifico também, uma grande ignorância, sobre o que é o Humano e os seus referenciais. Analisando os inquéritos e seus resultados, saltam à vista quatro questões onde as pessoas no seu conjunto (homens e mulheres) parecem ter uma posição unânime bem definida? Quando questionados sobre se a “arte é indispensável à vida”, 90% respondeu que sim, ficando apenas 10% a responder que é um luxo para privilegiados. Fica-se com a noção que sabem que é importante porque indispensável. Porquê e em que medida veremos mais adiante (em hipótese).
A outra questão que sobressai pela positiva é a que “arte embeleza a vida de todos e de cada um”, com 100% das respostas. Ninguém a achou banal ou sem interesse, o que, leia-se, afirmam como importante. A terceira questão com igual relevância nas respostas é se “a arte é algo que se aprende” com 100% das respostas positivas, contrariando a ideia (0%) que “só é praticada por privilegiados, sobredotados”. O que mais uma vez, é a minha tese, sentem pensam a arte como algo importante porque possível de aprender e não uma coisa que só alguns podem escolher, têm acesso. A última, a quarta questão que relevo é a de que “a arte é uma actividade de comunicação”com 80% de respostas positivas contra 20% que responde ser uma utopia. O que demonstra, uma vez mais, a arte como coisa importante porque é uma forma de comunicação. Comunicação, tão essencial ao relacionamento entre as pessoas.
Proponho agora uma leitura destas quatro questões, que estão entre os 80 e os 100% de respostas positivas, para observar que terão as pessoas respondido deste modo porque têm uma noção da arte confundindo-a com a beleza/estética, do bem parecer perante os outros? Será uma acepção da arte pelo design, publicidade, hedonismo? Vejamos, a arte, responderam, é indispensável porque embeleza a vida de todos e de cada um, é uma actividade de comunicação e algo que se aprende, portanto também acessível a todos os que querem aprender. Logo uma actividade da razão, aspecto cognitivo. E claro está, na realidade acessível a alguns, não a todos, só aos que queiram ou possam aprender.
Passemos agora a outras questões. Quando perguntado se “a arte é uma linguagem das pessoas” ou se “a arte acontece por todo o lado na natureza” 60% responde positivamente à segunda. O que parece confirmar a tese de que pensam a arte como exteriorização da beleza (hedonismo). Contraria, no entanto, a resposta à questão se “a arte é próprio de tudo o que é vivo” com 40% das respostas e assumindo a arte como “uma manifestação exclusivamente humana” com 60% das respostas positivas. Ou será a noção de que o homem é natureza ou está na natureza, faz parte dela ou exterior a ela? É difícil chegar a uma conclusão tendo apenas por base estes inquéritos. Mas uma coisa parece demonstrar, a ideia que não há uma definição na cabeça das pessoas sobre o que é o homem e as suas expressões. “Perspectivam o homem que são de formas tão pouco humanas”. (1).
Por referir a aproximação das respostas quando é perguntado “se a arte é simplesmente emoção” 50% ou se “a arte é manifestação da realidade” 50%. Estas respostas reflectem a reflexão já atrás feita sobre o que é o homem.
A questão se “a arte é uma imitação da realidade” 45% e a “arte é uma distorção da realidade” 55% remete-nos também para a noção, não do homem como centro decisor sobre a arte, mas a realidade manipulada tornando-se arte, por imitação ou por distorção. Cruzando todas as respostas fico com a sensação que se pensa a arte exterior ao aspecto afectivo, caindo mais para o aspecto cognitivo.
Podemos também analisar as diferenças entre homens e mulheres, verificando – se algumas curiosidades: eles pensam a arte como uma linguagem das pessoas, eles uma coisa que pode acontecer por todo o lado (mais líricas, hedonistas?). Depois mais questões em contradição reflectindo a ignorância sobre a arte e a noção de homem. Em relação à questão se a arte é simplesmente emoção ou manifestação da realidade, elas ficam pela primeira e eles pela segunda. Reflecte o aspecto mais sentimental da mulher? Os homens são mais “terra a terra”? Questões por resolver, a desvendarem.
Quanto a arte ser indispensável ou um luxo, aqui nota-se uma diferença de sexos, eles nunca referem como luxo, elas 10% dizem que sim. Mas nenhum a considera banal. Facto curioso.
Outra diferença de respostas é a afirmação delas 10% de que a arte é utopia. Eles nunca referem a utopia ligada à arte. Para eles a arte é uma actividade de comunicação. Ponto final.
Mas regra geral pode-se dizer que a diferença de género não altera substancialmente as respostas, pelo que considero estarem ambos ao mesmo nível de conhecimento.
Analisando a relação entre os géneros e as idades cheguei à conclusão que quase não há diferenças no intervalo 18-25 entre homens e mulheres, e quando existem são ténues. Nota-se uma maior aproximação entre os géneros no intervalo 18-25 anos do que no intervalo dos 50-60 anos onde, embora pouco significativas, se observam maiores diferenças. É comum nesta faixa etária a acentuação da arte como beleza, a arte que se aprende, a arte como comunicação. Comum a todas as idades e géneros é a de a arte não ser vista como algo banal e só para super dotados. Já analisando na perspectiva dos mesmos intervalos de idade, juntando masculino e feminino, nota-se, aqui sim, algumas diferenças. No nível etário 50-60 anos 80% consideram a arte como uma linguagem das pessoas contra 20% do intervalo 18-25 anos. Consideram que a arte embeleza 60% no nível 50-60 contra 40% dos 18-25. Também os mais velhos acham que a arte se aprende, 66%, contra 24% dos mais novos. São os mais velhos, 83% a achar a arte uma actividade exclusivamente humana, assim como uma actividade de comunicação, 75%. Como conclusão, fica-me a ideia que os inquiridos têm sobre a arte (ou daquilo que falamos, quando falamos de arte) é vago, muito ligado à natureza, como algo que é útil porque embeleza, por isso indispensável, é comunicante e pode-se aprender. É algo acessível, teoricamente, a toda a gente, mas não é uma manifestação exclusivamente humana. Fica a ideia que a imaginação e a fantasia é apanágio de outras actividades humana, pois a arte aparece, em contradição, ora como ligada à natureza ora ligada ao aspecto cognitivo do homem. Como atrás referi não sei se esta visão da arte vem da ignorância do que é, ela mesma, se do não conhecimento do que é o homem, do que são as características dos humanos, do que são as expressões pessoais do humano como humano, como um e não como partes. Como o humano desenvolvendo-se, tendo como uma das suas expressões mais importantes a arte, a criação artística.
Por isso voltamos à velha questão, a arte só será arte quando o humano se perspectivar como humano. E o humano só será humano quando for perspectivado como criador de arte.
Através deste inquérito posso dizer que a maioria esmagadora das pessoas ainda não perspectivou o humano como humano.
O que reflecte a nossa unidade pessoal enquanto humanos são as nossas manifestações artísticas, de criatividade. Esta ideia ainda está longe de ser compreendida pelos nossos companheiros na viagem do desenvolvimento.
(1) Enigma Indecifrável? – Professor Doutor Álvaro Miranda Santos

Artes e Públicos


"O Humano só será Humano quando for perspectivado como criador de arte."

A arte é criação, é expressão não é reacção.


A Arte: de que se trata?