sábado, 5 de janeiro de 2008




Braille
Blinded by an accident in his early childhood, 15 year old Louis Braille (1809-1852) invented a system of reading and writing by touch.
A Braille cell consists of six raised dots. By arranging the dots in various combinations, 64 different patterns cam be formed.
Braille, a true alphabet, is read by moving the hand from left to right along each line. Readers average about 104-125 words per minute. Some can read 250 words by using both hands.

http://pouemes.free.fr/poesie/la_glace/braille.htm#

Dia Mundial Braille


Dia Mundial Braille: Histórias infantis hoje (4 de Janeiro) em Coimbra. A Universidade de Coimbra e a Direcção Regional de Educação do Centro (DREC) vão hoje assinalar o Dia Mundial do Braille apresentando numa escola em Coimbra histórias infantis criadas para sensibilizar as crianças cegas para as questões ambientais.
Com o apoio da VALORMED, na Escola EB2,3 Inês de Castro de Coimbra vão hoje ser apresentados os dois primeiros volumes de uma colecção que posteriormente serão oferecidos a todos os meninos cegos do 1º e 2º ciclos do ensino básico do país.
O projecto foi desenvolvido no âmbito do grupo EQOFAR (Estudantes de Química Orgânica de Farmácia Acção Reacção) da licenciatura de Ciências Farmacêuticas, composto por estudantes e coordenado pela docente Maria José Moreno, que há algum tempo vinha desenvolvendo actividades de intervenção comunitária, em especial em escolas, na sensibilização ambiental.
Maria José Moreno é a autora desta colecção de histórias que tem como protagonistas os gémeos João e Joana, que aprendem as primeiras letras, mas no seio da sua família vão também se apercebendo da importância que a preservação do ambiente tem de ter no seu quotidiano.
«O Verdinho - as farmácias são amigas do ambiente» é o título do primeiro volume, em alusão ao «verdinho», o saco que a VALORMED deixa em cada farmácia para recolher os fármacos fora do prazo.
O segundo, também a apresentar hoje em edição Braille, tem o título «Aprender a separar para reciclar - os gémeos vão ao ecoponto».
Maria José Moreno adiantou à agência Lusa que no acto de lançamento dos dois primeiros volumes na Escola EB2,3 Eugénio de Castro entregará simbolicamente o terceiro volume para posterior edição Braille, que tem o título: «Aprender o R de reduzir - os gémeos vão ao hipermercado».
A colecção será composta por seis curtas histórias infanto-juvenis que abordam questões relacionadas com o meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e a saúde pública, no contexto do quotidiano de uma família.
A edição em Braille, segundo a autora, surge ao contrário do que é comum, por neste caso se privilegiar uma minoria, a dos cidadãos invisuais, e só posteriormente se avançar para a edição comum, em suporte livro ou informático.
«A igualdade de oportunidades não se deve restringir ao período das comemorações», declarou a docente, ao aludir à evocação em 2007 do Ano Europeu de Igualdade de Oportunidades para Todos.
A ideia de o EQOFAR começar a criar os próprios materiais para sensibilização ambiental surgiu das queixas dos professores de não disporem de materiais de apoio para preparar previamente os seus alunos para as acções que este grupo da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra em cada uma delas desenvolvia, explicou Maria José Moreno.
Este grupo e esta docente estão já a preparar outros contos didácticos para assinalar o Ano Internacional do Planeta Terra, da UNESCO, adiantou.
De acordo com uma nota do Gabinete de Comunicação da Reitoria da Universidade de Coimbra, o EQOFAR, mais do que uma aplicação prática dos conceitos que os seus membros vão apreendendo no âmbito da licenciatura, é hoje um «caso de sucesso na interacção da universidade com a sociedade».
O Dia Mundial do Braille, que se comemora a 4 de Janeiro, evoca o nascimento de Louis Braille e a sua acção em prol da integração dos cidadãos com deficiência visual.
Diário Digital / Lusa
04-01-2008 7:31:00

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

A educação em balanço de final de ano

“Num país onde a inteligência é um capital inútil e onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e de escrúpulos, o diagnóstico impõe-se per se”.Manuel Laranjeira, 1908. Rui Baptista* Ainda mesmo o comum dos mortais sabe que perante qualquer estado mórbido existem, pelo menos, duas etapas indissociáveis e de cumprimento obrigatório para o debelar: diagnóstico e terapêutica. No que respeita às entidades directamente responsáveis pela Educação, as respectivas maleitas têm permanecido na penumbra oficial com a excepção da actual responsável pela pasta da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, ao assumir publicamente que o relatório da OCDE [sigla da “Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos”, com o objectivo de “fomentar o desenvolvimento da investigação e formação nos domínios científico e tecnológico”] sobre o sector não “traz novidades” para Portugal e que os dados são “preocupantes” (“Público”, 15.Setembro 2005). Daqui saúdo a assunção pública de uma preocupação, mas reprovo o facto de os dados continuarem a ser tanto ou mais inquietantes volvidos mais de dois anos por não se ter passado de um simples diagnóstico a uma adequada terapêutica.De há anos a esta parte, numa meritória acção de cidadania, personalidades do mundo científico, cultural e político não se têm eximido de denunciar o estado caótico da Educação. Denúncia que, pelos vistos, cai sempre em saco roto! Neste final de ano de 2007 recordo, sem qualquer preocupação cronológica, alguns desses diagnósticos em banho-maria na procura de soluções:- “De repente, perante a obstinação dos que teimaram em não acreditar na realidade, o Portugal novo-rico tornou-se no Portugal novo-pobre. Pobre, porque pobre na qualificação das pessoas. Aí estão a comprová-lo os números terríveis do Estudo Nacional de Literacia, recentemente publicados” - António Guterres.- “Estamos a formar não um país de analfabetos, como até aqui, mas um país de burros diplomados” – Francisco Sousa Tavares.- “As políticas educativas seguidas nos últimos 15 anos foram um desastre. Os resultados estão à vista. Lemos nos jornais e constatamos que a Educação está na rua, na lama da voz pública.” – Manuel Ferreira Patrício.- [A Educação] “é um desastre completo. Nem daqui a 30 ou 40 anos nos livramos dos erros que andamos a fazer hoje” – Silva Lopes.- “A escola que temos não exige a muitos jovens qualquer aproveitamento útil ou qualquer respeito ou disciplina. Passa o tempo a pôr-lhes pó de talco e a mudar-lhes as fraldas até aos 17 anos. (…) Vão para a universidade mal sabendo ler e escrever e muitas vezes sem sequer conhecerem as quatro operações” – Vasco Graça Moura.- “(…) fazer entrar o maior número de estudantes, sem consideração pelo mérito; formar técnicos de medíocre qualidade, sem zelar pela qualidade das instituições; libertar os docentes da tarefa de seleccionar: e transmitir à população a ideia de que o acesso à universidade é um direito de todos, tal como a protecção na doença e na velhice” – Antóbio Barreto. - “Por força de um atraso ancestral, a necessidade de uma escola qualificada que dê lugar a uma sociedade desenvolvida não está suficientemente clara na mente das pessoas. A escola, a boa escola, não ocupa ainda o lugar a que tem direito” – Carlos Fiolhais.- “É indesculpável que um professor - qualquer professor! - não saiba escrever, cometa erros de ortografia graves, tenha limitações sérias no vocabulário, não faça ideia do que é a lei da queda dos graves, não saiba somar fracções ou confesse ‘horror à matemática’” – Nuno Crato.- “Estão-se a formar ignorantes às pazadas” – Medina Carreira.- “Devido à irresponsabilidade dos governos, ao populismo dos parlamentares e à cobardia dos docentes, a universidade degradou-se para além do razoável” – Maria Filomena Mónica. - “A ideia de democratizar o ensino superior pela via da banalização do acesso e pela crescente degradação da sua qualidade não é somente um crime contra a própria ideia de ensino superior, é também politicamente pouco honesta” – Vital Moreira.É esta a Educação que temos com semelhanças aos tempos de Platão que, quando confrontado com a incapacidade das crianças em contarem e distinguirem os números pares dos ímpares, reconheceu com desalento: “Quanto a mim, parecemo-nos mais com porcos do que com Homens, e sinto-me envergonhado não só de mim mas de todos os gregos!” É esta a Educação que devemos continuar a tolerar?Neste final de ano, mais do que tolerá-la se deseja que delas se orgulhem todos os portugueses por, segundo o primeiro responsável pela governação de Portugal, “termos mais de 17% de alunos no ensino superior e 360 mil portugueses que, estando a trabalhar ou à procura de emprego, decidiram inscrever-se no programa Novas Oportunidades para melhorarem as suas classificações” (“Lusa”, 25.Dez.2007). Um autêntico país das maravilhas não se desse o caso de nessa percentagem estarem incluídos os que tiveram acesso a ensino superior por serem maiores de 23 anos, ou seja em situações em que a simples data de nascimento se fez substituta do exigente 12.º ano do ensino secundário, e de nas Novas Oportunidades “os frequentadores da escola terem uma vontade incrível de não aprender e não deixar aprender”(“Expresso”, 8.Dez.2007).E se, para Woody Allen, “o político de carreira é aquele que faz de cada solução um problema”, a solução para as declaradas deficiências do sistema educativo nacional têm tido guarida em acrescentar-lhes novos problemas dando-lhe o nome de soluções. Foi esta uma parte da mensagem natalícia de esperança no futuro da Educação; “o resto da mensagem foi José Sócrates a dizer bem dele mesmo e das suas políticas” (“Público”. 26.Dez.2007).*Ex-docente da Universidade do Portoruivbaptista@sapo.pt

Provedor do aluno


As férias dos nossos alunos estão já a decorrer depois de três meses de intenso trabalho em que a avaliação do desempenho do pessoal docente e, mais recentemente, a nova gestão escolar foram temas fortes deste período lectivo.O pessoal docente e o pessoal não docente estão quase sempre na berlinda, por motivos diferentes, os pais e encarregados de educação também, as autarquias e as actividades locais não deixam que lhes tirem o protagonismo; mas dos alunos, o fim último da actividade educativa, quase nunca se fala.Se não fossem eles, os discentes, as escolas não existiriam. É uma verdade insofismável. E, também por isso, todos os nossos esforços devem ter como objectivo o aluno, o futuro cidadão que a escola quer formar.Para isso é necessário que todas as políticas sejam direccionadas para o sucesso dos alunos e também contra o abandono escolar.A brincar, ou talvez não, acho que esta personagem principal do tabuleiro educacional deveria ter um Provedor, alguém que mostrasse aquilo que eles já há muito nos deram a entender que não está bem no ensino.Esse Provedor, entre outros alertas, daria pelo menos dois que passo a expor.O número elevado de disciplinas no terceiro ciclo. Por exemplo, no 7º ano de escolaridade os nossos jovens têm 12 disciplinas (2 são semestrais) e 3 áreas curriculares não disciplinares (ACND), num total de 15! O número pode ascender a 16 se o encarregado de educação inscreveu o seu educando em Educação Moral e Religiosa Católica ou outra confissão religiosa. No 8º e 9º anos o panorama é igual. O número elevado de disciplinas, em conjunto com as áreas curriculares não disciplinares, trazem uma falsa polivalência ao aluno que só o lança na confusão.As ACND (Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica), criadas em 2001, não estão atingir os objectivos a que as propuseram. Não são verdadeiras disciplinas, pois não tratam de nenhuma área específica do saber, sendo até aproveitadas para a leccionação de algumas disciplinas, como por exemplo a Matemática, no âmbito do Plano de Matemática. A sua utilidade deve ser repensada e transformada num aproveitamento efectivo e útil para os nossos alunos e professores que devem ver nas políticas educativas algo perceptível e exequível.Caso este facto fosse tido em conta pelos nossos políticos, estou certo de que ajudaria a resolver dois problemas com que as escolas se debatem actualmente, o insucesso e o abandono escolares. São verdadeiros problemas que merecem ser (re)pensados para que se encontrem boas soluções. Seguramente as escolas ajudarão também a encontrá-las.O Provedor do aluno ficaria muito satisfeito pois julgaria que teria dado um importante contributo para a resolução destes e de outros problemas.
Filinto Lima in O Primeiro de Janeiro 20-12-07

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Educação em desgraça?

Diário de Notícias 3 de Janeiro 2008

3 de Janeiro - Início do 2º período


Depois de alguns dias de preguiça e descanso, de muitas horas com vídeo jogos, está prestes a começar o segundo período de aulas para muitas crianças. O encontro com novos e velhos amigos, uma programação escolar, a programação dos tempos lúdicos e muito “estudo”. É preciso acreditar.
O número de maneiras com que poderemos ajudar os estudantes durante o ano lectivo é ilimitado. Seriamente, pensar em uma ou mais maneiras pode fazer a diferença nas suas e nossas vidas este ano. Não devemos parar de pensar em apenas uma óptima ideia mas torná-la uma realidade. Os benefícios que recebemos são a única motivação desta profissão.

É também nesta época do ano, que os pais se deverão inteirar melhor e com mais assiduidade da vida escolar dos seus educandos.
É a altura de ano para grandes mudanças,e aqui sugiro duas que terão impacto sobre o seu filho para a vida, mas que precisam de um pouco de trabalho e empenho de sua parte:
1. Expor o seu filho a algum tipo de exemplo.
As crianças geralmente copiam o comportamento e hábitos de seus pais. Crie com eles hábitos de trabalho, faça uma programação onde haja tempos para o estudo, mas também tempos para o lúdico.
2. Encontre um hobby, que atenda às suas crianças, eles precisam do “brincar”. O seu filho irá beneficiar imenso a partir desta decisão.
Não permitam aos seus filhos sentarem-se num canto com um vídeo jogo e uma televisão, a não ser acompanhados. Há muitas coisas boas que acontecem no "mundo real", que necessitam de atenção.
Estas duas sugestões, espero, vão fortalecer competências que duram uma vida. As recompensas podem ser infinitas, para toda a família.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Presidente da Républica pede "empenho e dedicação"


Um ano depois de ter pedido resultados ao Governo, Cavaco Silva aproveitou a mensagem de Ano Novo para concluir que 2007 «não foi fácil para muitos portugueses».

Cavaco Silva insatisfeito com resultados na economia
O Presidente Cavaco Silva afirmou-se esta terça-feira insatisfeito com os resultados obtidos em 2007 na economia, educação e justiça e fez um apelo ao diálogo do Governo para «reduzir a conflitualidade e tensões» em 2008.
Na área da Educação, o Presidente sublinha os sinais positivos - citados pelo primeiro-ministro, José Sócrates, na mensagem de Natal - do «aumento do número de alunos no ensino secundário e superior e a redução do insucesso e do abandono escolares».

No entanto, garante que há «ainda muito por fazer para reduzir o atraso de qualificação» dos jovens portugueses, por comparação com "a maioria dos países da União Europeia».

A receita para ultrapassar os problemas passa pelo «empenho e dedicação» dos professores, dos pais, «sem dispensar a exigência para com os alunos».



( 21:16 / 01 de Janeiro 08 )

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Jaime Cortesão


JAIME CORTESÃO
[Ançã/Cantanhede, 1884 - Lisboa, 1960]



Notável vulto da nossa cultura, político, historiador, poeta - que Fernando Pessoa, em carta particular, considerou "o primeiro dos poetas da novíssima geração" -, Jaime Cortesão licenciou-se em Medicina em 1909, com uma tese de licenciatura sobre o tema Arte e Medicina. Ainda estudante, em 1907, funda a revista Nova Silva com Leonardo Coimbra, Cláudio Basto e Álvaro Pinto. A partir de 1910 participa com Teixeira de Pascoaes no movimento iniciado com a revista A Águia, ampliado mais tarde, em 1911-1912, com as reuniões, em Coimbra, de um grupo de intelectuais que lança as bases do movimento "Renascença Portuguesa" e do qual Jaime Cortesão também fez parte, dirigindo o seu boletim A Vida Portuguesa, Porto, 1912 e seguintes. Viria ainda a ser um dos fundadores da revista Seara Nova (1921). Foi professor, no Porto, entre 1911 e 1917, tendo participado na Primeira Guerra Mundial (Flandres) como capitão-médico voluntário. Deste tempo passado em combate legou-nos as Memórias da Grande Guerra. De 1919 a 1927 foi director da Biblioteca Nacional, tendo-se, nesto último ano, exilado para o estrangeiro (Espanha, França, Bélgica, Ingtaterra). A partir de 1940 foi viver para o Brasil, aí continuando os seus notáveis trabalhos históricos, a que dera início por volta de 1922. No Brasil, onde teve a seu cargo, no Rio, logo após a chegada, a regência de cursos universitários sobre a história dos Descobrimentos, foi também encarregado, entre outras tarefas, de organizar, em 1944, um curso de história da cartografia do Brasil, destinado a diplomatas. Em 1952, foi da sua responsabilidade a organização da Exposição Histórica de São Paulo, por altura da celebração do quarto centenário da fundação daquela cidade. Em 1957 regressa definitivamente a Portugal, pouco depois de lhe ter sido concedido o título de"cidadão benemérito" de São de Paulo, em homenagem ao seu trabalho para a Exposição Histórica. Em 1958, com 74 anos, é preso no Forte de Caxias, juntamente com António Sérgio, Vieira de Almeida e Azevedo Gomes, tendo sido solto depois de uma forte campanha de indignação e protesto por parte da imprensa brasileira. Assumindo naturalmente o estatuto de mentor intelectual e moral da oposição portuguesa, é-lhe proposto candidatar-se à Presidência da República, honra que declina. Dedicando-se de novo, com empenho e quase voracidade, aos seus trabalhos históricos, vem a falecer em 14 de Agosto de 1960, com 76 anos. Hoje mais conhecido pelos seus trabalhos históricos, Jaime Cortesão começou, no campo da literatura, por ser poeta - um poeta injustamente pouco conhecido. "A vida tumultuosa de Jaime Cortesão", observou, com justiça, David Mourão-Ferreira, "a sua ausência de Portugal durante mais de quarto de século, a esplendorosa afirmação da sua personalidade em tantos outros sectores - particularmente na historiografia, no ensaísmo, na acção política -, conjugaram-se também para o momentâneo eclipse que a sua obra de poeta tem sofrido." O seu primeiro livro, A Morte da Águia (1910), revelava desde logo, como penetrantemente notou Fernando Pessoa, "um elemento heróico". "Mas o poeta de A Morte da Águia [...]", observará ainda Mourão-Ferreira,um dos mais inteligentes e subtis estudiosos da poesia de Jaime Cortesão, "não é apenas um épico. Na sua personalidade existem igualmente um poeta lírico e um poeta dramático." Sobre a eminência do historiador, cuja atenção se focou sobre um leque muito vasto de temas, os depoimentos não faltam, vindos dos mais variados sectores. Vitorino Nemésio, por exemplo, dizia dele: "Dos poucos que verdadeiramente contam na história da vida espiritual portuguesa, Jaime Cortesão é um dos mais genuinamente ilustres, e decerto o maior historiador. O seu primado, nesse campo, ergue-se mesmo acima de limites de geração e de moda, situando-se na alta linhagem dos nossos escritores de história." O depoimento de Vitorino Magalhães Godinho não é menos enfático: "No primeiro plano da historiografia portuguesa do século XX destaca-se [...] a figura de Jaime Cortesão. Médico de formação, poeta de temperamento e estilo, tem o agudo sentido de uma problemática universal, sabe visionar o luso império no seu conjunto e desvendar os fios que o prendem ao que se desenrola nos quatro continentes e nos três oceanos, e arrogadamente galga sobre os documentos, que conhece como ninguém, para arquitectar hipóteses sedutoras e provocantes como reptos [...]." Era filho do filólogo António Augusto Cortesão e irmão do historiador e cartógrafo Armando Cortesão.

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994

Augusto Abelaira


AUGUSTO ABELAIRA
[Ançã, 1926 - Lisboa, 2003]

Romancista, dramaturgo e tradutor. Passou a infância nos Açores. Licenciou-se em Histórico-Filosóficas em Lisboa. Exerceu o magistério por algum tempo e dedicou-se, depois, ao jornalismo, tendo sido director da Seara Nova e da Vida Mundial e cronista de O Jornal e do JL. No âmbito da chamada geração de cinquenta (Augusto Abelaira, José Cardoso Pires, Fernanda Botelho, Urbano Tavares Rodrigues), a obra de Augusto Abelaira é um exemplo da tranferência do carácter documental, do espaço e personagens rurais e da crença num devir histórico de emancipação - que enformavam o neo-realismo dos anos quarenta - para uma mais aguda consciência da literatura como arte de escrita, para um espaço e personagens urbanos e para uma atitude interrogativa sobre a teleologia da história. Distanciamento crítico e até autocrítico a que não será estranho o furtar das expectativas nascidas do pós-guerra, o conhecimento de algumas das vicissitudes da "socialismo real" e o encontro com o existencialismo. É precisamente de uma juventude a braços com a fatalidade das suas ilusões frustradas, e que oscila aí entre um pessimismo metafísico e um optimismo hipotético ou de desejo histórico, que nos fala o seu primeiro romance A Cidade das Flores (1959). Enseada Amena (1966) será talvez o romance que melhor resume a primeira fase da obra de A.A., seja nos seus processos estilísticos - a construção dialogante, quase teatral, as personagens estilizadas, de algum modo mais pensantes que viventes, a complexificação temporal -, seja na fixação da sua problemática: a interrogação pelo sentido da história, do quotidiano, da arte, do amor e da morte. É disso que falam incessantemente as personagens deste romance, e o problema da sua má-consciência advém do facto de apenas falarem. Impossibilitadas de agirem politicamente, mas duvidando também de qualquer dimensão utópica de resistência, acabam por renunciar à acção e conformar-se ao auto-retrato do protagonista: um bípede céptico e desinteressado. Entregues assim a um quotidiano vazio, onde se sentem viver por interpostos costumes e valores, mas não podendo renunciar ao apelo quase biológico da Aventura, as personagens abelairianas acabam por descobrir que o único plano de Acontecimento que lhes está ao alcance é o erótico-sexual - daí o seu don juanismo, ainda que auto-irónico, e a consequente problematização do casamento, que atinge em Bolor (1968) um nível de reflexão único na nossa literatura. O 25 de Abril liberta A.A. da necessidade de um compromisso político em última instância, de modo que a sua crítica do demissionarismo translada-se agora a um plano mais decididamente filosófico, volvendo-se meditação sobre o impasse civilizacional em que vivemos. Depois de o rastrear e reconhecer em Sem Tecto, Entre Ruínas (1978), os romances seguintes tentam circunscrevê-lo segundo uma estratégia que oscila, e muitas vezes combina, o lúcido e o lúdico. Isto é, por um lado sabe-se que a vida não tem sentido e no entanto continua-se a procurá-lo, sabe-se que talvez nada justifique o escrever romances e no entanto continua-se a escrevê-los; por outro, supera-se o que de demasiado agónico poderia existir nessa lucidez, através do riso e do jogo, carnavalizando os saberes e a literatura. Foi tradutor de elevado nível, p.e. em A História do Mundo, de Jean Duché, na qual preserva cuidadosa e sabiamente a ironia do autor. Foi presidente da Associação Portuguesa de Escritores.

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998

"Um palmo de estante"


CARLOS DE OLIVEIRA
[Belém do Pará/Brasil, 1921 - Lisboa, 1981]

A reduzida extensão da obra de Carlos de Oliveira – «um palmo de estante», como escreveu Mário Dionísio – é inversamente proporcional à sua importância no panorama literário português do século XX. Poeta e romancista, mas também cronista, crítico e tradutor, despertou para a escrita no seio da geração dos neo-realistas, em Coimbra. Através de um sólido trabalho de depuração e perfeccionismo, desenvolveu um estilo e uma consciência poética ímpares, que lhe valeram unânime reconhecimento pelos seus contemporâneos.

Filho de emigrantes portugueses, Carlos Alberto Serra de Oliveira nasceu no Brasil, em Belém do Pará, a 10 de Agosto de 1921. No Brasil só viveu os dois primeiros anos de vida: em 1923, os seus pais regressam a Portugal, acabando por se fixar na região da Gândara, concelho de Cantanhede, mais precisamente na aldeia de Febres, onde seu pai exerceu medicina.

Em 1933, Carlos de Oliveira parte para Coimbra, onde completa os estudos liceais e universitários, concluindo em 1947 a sua licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, com uma tese que denominou de Contribuição para uma estética neo-realista. No ano seguinte, o escritor ruma a Lisboa, onde passará a viver. Mantém colaborações esporádicas em vários jornais e revistas, e chega a tentar o ensino. A partir de 1972 dedica-se definitiva e exclusivamente à literatura.

A arte e a personalidade deste autor foram profundamente marcadas por três vectores fundamentais: a sua infância num meio pobre, rural e isolado (a Gândara); uma perspectiva que, embora marxista na forma de ver a Economia como motor da História, não seria redutora, porque se manteve aberta a todos os aspectos da relação do homem com o mundo; e a ditadura e censura salazaristas. O primeiro ditou-lhe os alicerces geológicos da sua escrita, num cenário omnipresente, e referências pontuais ao imaginário infantil; o segundo permitiu-lhe não se circunscrever, apenas, à perspectiva neo-realista; o terceiro valeu-lhe ser caracterizado como «pessimista», mas uma análise mais profunda revela, antes, uma consciência da fatalidade por parte de um grande humanista.

A maior parte da sua obra em prosa foi publicada entre 1943 e 1953: Casa na Duna, Alcateia, Pequenos Burgueses e Uma Abelha na Chuva, este último tornado clássico de leitura obrigatória nos programas escolares até final da década de 90. Só voltaria a publicar um romance em 1978, o aclamado Finisterra: paisagem e povoamento, canto do cisne e ajuste de contas com a memória, misterioso término de um quinteto de romances com a “sua” Gândara como pano de fundo progressivamente esbatido. Finisterra, devido à sua ousada forma “quebrada” e poética, gerou alguma polémica intelectual quanto à sua catalogação como romance mas, de uma maneira geral, foi considerado uma obra renovadora do romance português contemporâneo.

De igual modo, na poesia, Carlos de Oliveira é considerado um inovador, comprometido apenas com a sua própria disciplina poética. Na arte poética deste autor, Fernando Gil vê a «necessidade de explicar o modo como a linguagem e a realidade se confrontam e conjugam» e Eduardo Prado Coelho destrinça-lhe, como «fantasma dominante», o «desejo de habitar a interioridade da matéria». Entre Turismo (1942) e Pastoral (1977), Oliveira orquestrou uma evolução segura, trilhando laboriosamente um caminho de apuro estético, na busca quase mística da palavra certa, na concentração do mais denso significado na brevidade do texto e na reflexão sobre o próprio processo de escrita. O livro de poemas Cantata, publicado em 1960, viria a ser considerado um marco divisório na poesia de Carlos de Oliveira e os quatro livros de poesia que se seguiram tornaram-se, inquestionavelmente, obras de referência na poesia portuguesa contemporânea.

Além das obras de poesia e de ficção, há que assinalar O Aprendiz de Feiticeiro, um livro que reúne textos de carácter diverso, no qual o escritor se revela, a si e à sua escrita, observando-se e analisando as suas próprias motivações. É neste livro que melhor se percebe, como traço marginal mas dominante em toda a escrita de Carlos de Oliveira, uma consciência da sua própria obra como um todo em (re)construção, tarefa que implica permanentes supressões e reformulações do edifício literário, em nome da coerência interna. Segundo Alexandre Pinheiro Torres, a evolução literária de Oliveira foi ganhando em poder de criação aquilo que perdeu em peso informativo, algo que transparece claramente numa análise da reescrita que as suas publicações foram sofrendo até à data da morte do escritor, em 1981.



Centro de Documentação de Autores Portugueses
04/2005
(foto josé vieira)

domingo, 30 de dezembro de 2007

Bom Ano



Gifs, Flash e vídeos para seu Orkut = www.GifsRecados.com.br

Bienal de Artes Plásticas para Cantanhede

Depois de ler a notícia no Independente de Cantanhede, achei por bem deixar também o meu contributo concordando que seria uma mais valia para o Concelho uma bienal de artes plásticas.Mas lançava o repto aos artistas do Concelho, para que dessem o mote com a criação de uma associação que congregasse os seus interesses, sendo ela mesma a parceira ideal para a realização de um evento como a bienal de artes plásticas. Faço parte de uma associação de artistas (http://aaaarca.planetaclix.pt/) que já lançou esse desafio à Câmara Municipal sem ter recebido qualquer resposta.
(Pintura de josé vieira)

Artista local reivindica Bienal de Artes Plásticas para Cantanhede
Escrito por Regina Bilro
18-Set-2007
“Este Município tem todos os elementos necessários para a organização de uma Bienal Internacional de Artes Plásticas”. A convicção é de Rodrigues da Silva, artista plástico com ateliê na Pocariça. Segundo ele, a realização de um evento do género em Cantanhede lançaria os artistas locais, ao mesmo tempo que colocaria o concelho na rota do Turismo Cultural.
Rodrigues da Silva, artista plástico com ateliê na Pocariça, afirma não querer qualquer tipo de protagonismos. Mas recusa-se a remeter-se ao silêncio quando sabe das dificuldades que muitos artistas do concelho atravessam.

“Van Gogh morreu sem ver o seu trabalho reconhecido. Não podemos deixar que o mesmo aconteça com os artistas de Cantanhede”, defende.

Impulsionado pela vontade de fazer algo tanto em benefício da cultura concelhia como dos seus “colegas de arte”, Rodrigues da Silva vem amadurecendo a ideia da criação de uma Bienal de Artes Plásticas em Cantanhede. Depois de a ter proposto à autarquia, apresenta-a agora ao “Independente”, na perspectiva que a sua divulgação pública origine um movimento que leve à sua concretização.