sábado, 31 de maio de 2008
Educação: Sistema de quotas da avaliação de docentes
Educação: Sistema de quotas da avaliação de docentes "mais favorável" que o da Administração Pública - Sec. Estado
29 de Maio de 2008, 20:33
Lisboa, 29 Mai (Lusa) - O secretário de Estado adjunto e da Educação garantiu hoje que o sistema de quotas da avaliação de desempenho dos professores é "mais favorável" que o da Administração Pública, defendendo que este modelo é "fundamental" para garantir a diferenciação.
"Este é um regime claramente mais favorável do que o aplicado na Administração Pública. Sem mecanismos que forçem a diferenciação facilmente voltaríamos a cair em mecanismos de falsa homogeneidade", afirmou Jorge Pedreira, em conferência de imprensa, no Ministério da Educação (ME), em Lisboa.
Segundo a proposta de despacho dos Ministérios das Finanças e da Educação, as escolas vão poder atribuir um máximo de 10 por cento de classifições de "Excelente" e 25 por cento de "Muito Bom", mas só se tiverem nota máxima nos cinco domínios que compõem a avaliação externa, realizada pela Inspecção-Geral de Educação.
Na pior das hipóteses, com uma classificação de "Muito Bom" e quatro de "Bom" ou duas classificações de "Muito Bom", duas de "Bom" e uma de "Suficiente", as escolas poderão dar seis por cento de "Excelente" e 21 por cento de "Muito Bom" aos docentes avaliados.
As escolas cujos resultados na avaliação externa sejam diferentes dos previstos no despacho, bem como as que não foram objecto de avaliação, poderão aplicar um máximo de 5 por cento de "Excelente" e 20 por cento de "Muito Bom", as percentagens "padrão" previstas no documento.
Na Administração Pública, as quotas "padrão" são de 20 por cento de classificações de "Muito Bom" e cinco por cento de "Excelente". No máximo, poderão estas percentagens subir para 25 por cento e 10 por cento, respectivamente, para os serviços que alcançem a "classificação de mérito".
"Entendemos que mesmo as escolas que não atinjam a classificação máxima [Muito Bom] nos cinco domínios a ter em conta na avaliação externa deveriam ter uma majoração, e nesse sentido existem cinco possibilidades de majoração, cinco combinações de classificação", congratulou-se Jorge Pedreira.
Por outro lado, o governante sublinhou que nenhuma escola seria penalizada pelos resultados da sua avaliação externa, pelo que na pior das hipóteses os estabelecimentos de ensino com más classificações terão ao seu dispõr as quotas "padrão".
Relativamente às escolas que não foram ainda avaliadas, o secretário de Estado adiantou que cerca de metade estão nessa situação e que, por outro lado, "não fazia sentido prejudicar as escolas que tiveram boa classificação só porque outras não foram avaliadas".
"As escolas foram avaliadas por sua iniciativa", referiu.
Os sindicatos de professores rejeitam a existência de quotas na atribuição das classificações mais elevadas, que permitem progredir na carreira mais rapidamente, criticando a "limitação administrativa" do reconhecimento do mérito dos professores.
Na reacção à proposta do Governo, as três federações sindicais de professores recordaram que existem escolas com melhores condições de trabalho e inseridas em contextos sociais mais favoráveis do que outras.
"A avaliação externa tem em consideração o contexto em que a escola está inserida", garantiu Jorge Pedreira, exemplificando: "Uma escola com elevada taxa de insucesso pode ter feito uma enorme progressão nos últimos anos e isso vai reflectir-se no critério dos resultados".
O secretário de Estado adjunto e da Educação garantiu ainda que o Governo tem abertura para analisar as contra-propostas dos sindicatos, mas que "não se justifica aumentar as percentagens máximas nem a percentagem padrão".
Este diploma começou hoje a ser negociado entre os sindicatos e o Governo e será para aplicar no primeiro ciclo de avaliações: docentes avaliados este ano lectivo e no próximo.
MLS.
Lusa/Fim
29 de Maio de 2008, 20:33
Lisboa, 29 Mai (Lusa) - O secretário de Estado adjunto e da Educação garantiu hoje que o sistema de quotas da avaliação de desempenho dos professores é "mais favorável" que o da Administração Pública, defendendo que este modelo é "fundamental" para garantir a diferenciação.
"Este é um regime claramente mais favorável do que o aplicado na Administração Pública. Sem mecanismos que forçem a diferenciação facilmente voltaríamos a cair em mecanismos de falsa homogeneidade", afirmou Jorge Pedreira, em conferência de imprensa, no Ministério da Educação (ME), em Lisboa.
Segundo a proposta de despacho dos Ministérios das Finanças e da Educação, as escolas vão poder atribuir um máximo de 10 por cento de classifições de "Excelente" e 25 por cento de "Muito Bom", mas só se tiverem nota máxima nos cinco domínios que compõem a avaliação externa, realizada pela Inspecção-Geral de Educação.
Na pior das hipóteses, com uma classificação de "Muito Bom" e quatro de "Bom" ou duas classificações de "Muito Bom", duas de "Bom" e uma de "Suficiente", as escolas poderão dar seis por cento de "Excelente" e 21 por cento de "Muito Bom" aos docentes avaliados.
As escolas cujos resultados na avaliação externa sejam diferentes dos previstos no despacho, bem como as que não foram objecto de avaliação, poderão aplicar um máximo de 5 por cento de "Excelente" e 20 por cento de "Muito Bom", as percentagens "padrão" previstas no documento.
Na Administração Pública, as quotas "padrão" são de 20 por cento de classificações de "Muito Bom" e cinco por cento de "Excelente". No máximo, poderão estas percentagens subir para 25 por cento e 10 por cento, respectivamente, para os serviços que alcançem a "classificação de mérito".
"Entendemos que mesmo as escolas que não atinjam a classificação máxima [Muito Bom] nos cinco domínios a ter em conta na avaliação externa deveriam ter uma majoração, e nesse sentido existem cinco possibilidades de majoração, cinco combinações de classificação", congratulou-se Jorge Pedreira.
Por outro lado, o governante sublinhou que nenhuma escola seria penalizada pelos resultados da sua avaliação externa, pelo que na pior das hipóteses os estabelecimentos de ensino com más classificações terão ao seu dispõr as quotas "padrão".
Relativamente às escolas que não foram ainda avaliadas, o secretário de Estado adiantou que cerca de metade estão nessa situação e que, por outro lado, "não fazia sentido prejudicar as escolas que tiveram boa classificação só porque outras não foram avaliadas".
"As escolas foram avaliadas por sua iniciativa", referiu.
Os sindicatos de professores rejeitam a existência de quotas na atribuição das classificações mais elevadas, que permitem progredir na carreira mais rapidamente, criticando a "limitação administrativa" do reconhecimento do mérito dos professores.
Na reacção à proposta do Governo, as três federações sindicais de professores recordaram que existem escolas com melhores condições de trabalho e inseridas em contextos sociais mais favoráveis do que outras.
"A avaliação externa tem em consideração o contexto em que a escola está inserida", garantiu Jorge Pedreira, exemplificando: "Uma escola com elevada taxa de insucesso pode ter feito uma enorme progressão nos últimos anos e isso vai reflectir-se no critério dos resultados".
O secretário de Estado adjunto e da Educação garantiu ainda que o Governo tem abertura para analisar as contra-propostas dos sindicatos, mas que "não se justifica aumentar as percentagens máximas nem a percentagem padrão".
Este diploma começou hoje a ser negociado entre os sindicatos e o Governo e será para aplicar no primeiro ciclo de avaliações: docentes avaliados este ano lectivo e no próximo.
MLS.
Lusa/Fim
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Avaliação de desempenho de Professores
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Arte erótica
Parece unânime a opinião de que, o que define arte erótica de pornografia, são suas finalidades da publicação; se provocam a participação do público pela excitação sexual ou se solicitam a participação apenas indireta deste público, nas palavras de Bjr, solicitar uma cumplicidade a distância. Seguindo então o caminho por entre as acaloradas discussões que o assunto incitou (e excitou), chegamos ao que possivelmente é o que há de mais próximo de uma fronteira entre a arte, o erotismo e pornografia: o site americano Suicide Girls.
Fonte: obvious
Etiquetas:
Arte erótica,
obvious
O "graffiti" chegou às paredes do Tate Modern
29.05.2008 - 16h04 Filipa Cardoso
Da Itália ao Brasil, artistas de várias nacionalidades cobriram de "graffitis" as paredes do Tate Modern, em Londres. Um dos mais consagrados museus de arte moderna do mundo vestiu-se de cultura urbana e não deixa indiferente quem passa por Bankside.“À primeira vista parece um homem com uma arma, mas é um homem com uma câmara!”, afirmava uma visitante à porta do Tate Modern, a um entrevistador da BBC que lhe perguntava o que achava do grafitti do fotógrafo francês JR, que representa um homem gigante de olhar ameaçador com uma câmara na mão. Mesmo para quem não quiser entrar no Tate Modern, pode sempre observar os coloridos "graffitis" que ornamentam desde a semana passada a fachada do, até então, monocolor do museu. A grande maioria dos artistas confessa que parte dos seus trabalhos foram criados de forma ilegal. Este projecto permitiu levar, de forma legal, as cores e imagens dos vários universos artísticos do "graffiti" para uma das mais conceituadas instituições inglesas ligadas à arte.A iniciativa, intitulada "Street Art at Tate Modern", patente até ao dia 25 de Agosto, tem como principal objectivo criar a primeira exposição de "graffitis" nas paredes de um grande museu. Entre os mestres da arte do "spray", destacaram-se o italiano "Blu", fascinado pelo corpo humano, o colectico novaiorquino "Faile", que elegeu o hip-hop como tema, o fotógrafo parisiente "JR", que opta por um universo a preto e branco, os brasileiros "Nunca", que usam cores quentes e objectos representativos da sua cultura, como o café, ou o colectivo “Gémeos”, também do Brasil, muito influenciado pelos artistas indianos e ainda os espanhóis "Sixeart", com um estilo abstraccionista psicadélico.Paralelamente às representações no Tate Modern, obras de cinco artistas madrilenos foram distribuídas pelo quarteirão de Southwark, símbolo do renascimento da zona sul da capital inglesa. Do outro lado da ponte Millenium, o mesmo universo colorido e irreverente estende-se pelas ruas.Em Soho, Hoxton ou Brick Lane, as galerias especializadas nesta arte multiplicam-se. Em Fevereiro, a loja “Bonham" organizou um leilão para venda de graffitis que atingiram preços recorde. Ainda recentemente, os habitantes de Bristol mobilizaram-se para conservar os murais do seu “enfant terrible”, Banksy, que recentemente organizou um festival de "graffiti" com 40 artistas.
Da Itália ao Brasil, artistas de várias nacionalidades cobriram de "graffitis" as paredes do Tate Modern, em Londres. Um dos mais consagrados museus de arte moderna do mundo vestiu-se de cultura urbana e não deixa indiferente quem passa por Bankside.“À primeira vista parece um homem com uma arma, mas é um homem com uma câmara!”, afirmava uma visitante à porta do Tate Modern, a um entrevistador da BBC que lhe perguntava o que achava do grafitti do fotógrafo francês JR, que representa um homem gigante de olhar ameaçador com uma câmara na mão. Mesmo para quem não quiser entrar no Tate Modern, pode sempre observar os coloridos "graffitis" que ornamentam desde a semana passada a fachada do, até então, monocolor do museu. A grande maioria dos artistas confessa que parte dos seus trabalhos foram criados de forma ilegal. Este projecto permitiu levar, de forma legal, as cores e imagens dos vários universos artísticos do "graffiti" para uma das mais conceituadas instituições inglesas ligadas à arte.A iniciativa, intitulada "Street Art at Tate Modern", patente até ao dia 25 de Agosto, tem como principal objectivo criar a primeira exposição de "graffitis" nas paredes de um grande museu. Entre os mestres da arte do "spray", destacaram-se o italiano "Blu", fascinado pelo corpo humano, o colectico novaiorquino "Faile", que elegeu o hip-hop como tema, o fotógrafo parisiente "JR", que opta por um universo a preto e branco, os brasileiros "Nunca", que usam cores quentes e objectos representativos da sua cultura, como o café, ou o colectivo “Gémeos”, também do Brasil, muito influenciado pelos artistas indianos e ainda os espanhóis "Sixeart", com um estilo abstraccionista psicadélico.Paralelamente às representações no Tate Modern, obras de cinco artistas madrilenos foram distribuídas pelo quarteirão de Southwark, símbolo do renascimento da zona sul da capital inglesa. Do outro lado da ponte Millenium, o mesmo universo colorido e irreverente estende-se pelas ruas.Em Soho, Hoxton ou Brick Lane, as galerias especializadas nesta arte multiplicam-se. Em Fevereiro, a loja “Bonham" organizou um leilão para venda de graffitis que atingiram preços recorde. Ainda recentemente, os habitantes de Bristol mobilizaram-se para conservar os murais do seu “enfant terrible”, Banksy, que recentemente organizou um festival de "graffiti" com 40 artistas.
“A arte é tão importante que pode legitimar as mais horríveis ideologias”
O que faz um historiador de arte?
Um historiador de arte procura ler, interpretar e devolver memória a arquitectura, escultura, pintura, têxteis, gravura. Isto é, tenta que o objecto de arte que teve já um papel determinado pela História em determinado momento - medieval, moderno ou contemporâneo -, volte a ter o papel de encantamento, de testemunho. Que volte a ter um papel de trans-memória relativamente ao público que olha para ele.
Esse conceito de trans-memória é muito caro para si.
A obra de arte é o único objecto criado pelo homem que é vivo. Tem uma dinâmica dialéctica, trans-contextual, que é permanentemente renovada porque vai gerando permanentemente novos públicos.
Cada época tem um olhar sobre a mesma obra de arte?
A obra de arte escapa ao autor e ao público. Não basta ao historiador de arte saber quem fez e quando, quem é que a encomendou, porque isso explica apenas uma pequena parte do problema. O grande problema é: o que é que a obra é?
É sempre um exercício subjectivo.
Pode haver margens de erro, mas deve haver o mínimo. O historiador deve ter rigor para interrogar a obra com objectividade, cumprindo a metodologia que lhe cabe, trabalho de laboratório, estudo comparativo. Mas é claro que a obra, por regra, é inesgotável. Toda e qualquer obra de arte é inesgotável.
O historiador de arte é o intérprete ou o mediador entre o autor e o público.
Perfeitamente. É um intérprete crítico, com um papel activo, mas tem que ter primeiro que tudo uma grande humildade relativamente ao objecto. Interrogá-lo, descobri-lo, desvendá-lo. E parar quando a obra não revela mais…
Como é que se atinge essa percepção de que não há mais significados escondidos?
O erro é humano e normal. Tentamos errar o mínimo...
Nunca fica com a sensação de que há em determinada obra mais qualquer coisa escondida?
Sim e é normal que se volte a ver obras que já vimos, que tivemos que estudar noutros momentos, e dar-lhes um bocadinho mais. Nós evoluímos e a própria obra pode revelar aspectos que não eram intuíveis num primeiro momento.
Houve algum bem artístico que lhe tenha dado especial prazer estudar?
Hoje (dia 21 de Maio) vou falar aqui em Santarém da Capela Dourada, porque é um monumento da minha terra adoptiva que vejo desde pequenino, com o meu avô, com o meu pai. É uma magnífica capela barroca praticamente ignorada pelos escalabitanos, que tem estado fechada ao público. É uma obra que encaixa bem na pergunta que me fez. Foi desdobrando o encanto à medida que fui crescendo também com ela. A talha, a pintura, os rodapés, os retábulos barrocos, é uma unidade extraordinária do melhor barroco português que está ali encafuado naquele pequeno templinho ao lado da igreja do antigo hospital.
Grande parte da sua vida profissional é virada para o passado. Até que ponto isso determina a sua forma de analisar e viver o presente?
Gosto de definir o meu trabalho como de contemporaneidade. Porque toda a obra de arte é contemporânea. Pelo menos no momento em que olho para ela, em que a convoco para o meu tempo e tento entender os fascínios, os mecanismos que a fabricaram e que continuam a gerar empatia, ou não, relativamente a ela.
Agora também é verdade que tenho dedicado a minha vida a estudar o maneirismo, o renascimento, o barroco como períodos mais privilegiados. O proto-barroco é um período notável em Portugal e no antigo império português na arquitectura, na arte decorativa…
Qual dessas modalidades gosta mais de estudar?
Tenho estudado mais pintura, porque era o parente pobre. Em Portugal há milhares de quadros, frescos, alguns de muito boa qualidade e era a matéria mais urgente.
Todos os regimes marcantes têm habitualmente correntes estéticas associadas. A arte é uma forma de cimentar as ideologias?
Contrariando a ideia de que o património nasce inevitavelmente ligado a um momento de estabilidade ou de maior poderio económico, muito frequentemente nasce na mais rebelde vanguarda, na mais inóspita periferia. O fenómeno criativo tem outro tipo de regras. Depende do génio criativo mas depende fundamentalmente de uma conjuntura de rebelião, de comprometimento ideológico, da luta por ideais. A arte tem ideologia.
Isso aliás ficou bem vincado durante o regime nazi na Alemanha ou na extinta União Soviética.
Aí é diferente. Hoje está na moda denegrir o contributo do comunismo para o mundo. Estamos numa época neo-liberal em que se dá ideia que o comunismo não deu nada de bom. Convém distinguir e lembrar que há um contributo muito importante da esquerda a nível mundial que não é compaginável com o estalinismo. Confundimos tudo. E, nomeadamente no campo artístico, aquilo que foi criado naquele país feudal e que quebrou as grilhetas da tirania com o partido bolchevique, foi extraordinário.
Com o estalinismo as coisas mudam.
O estalinismo veio quebrar o fio condutor da criatividade e reprimir os criadores. E criou um regime sem grande qualidade, como também não tinha no campo hitleriano aquela caricatura de arte que em nome do combate à chamada arte degenerada foi criado para elogiar o regime fascista alemão. Evidentemente, a arte é tão importante que pode legitimar as mais horríveis ideologias.
Fado sim, touradas não
O centralismo cultural de Lisboa atrofia o país?
Numa altura em que está na moda atacar o Estado por tudo e por nada, creio que o Estado democrático tem um papel a cumprir nomeadamente na política cultural. Tem de haver um dirigismo competente e coerente que o Estado não cumpre. Lisboa é atacada não por ter um controlo a mais, mas por ter a menos. Defendo que deve haver mais Estado na cultura.
Em que sentido?
Deve haver uma melhor gestão dos monumentos que estão a cair, do património móvel que é vilipendiado, da política de restauro que não é feita. Enfim, são tantos problemas… Estamos a falar de bens públicos que não têm ideologia, que não têm carimbo, que nos comprometem em termos de futuro.
O abandono a que está votado o convento de São Francisco, em Santarém, é um exemplo dessa postura.
Houve uma altura em que confiámos muito, quando a câmara de José Miguel Noras levou a cabo uma tentativa de estudo integrado e um arranque do restauro que infelizmente não foi avante. Essa é uma das muitas nódoas que existem em Santarém a nível do património.
Que ligações tem com Santarém?
É a minha terra adoptiva. Aprendi a gostar muito dela com o meu avô, que era um ribatejano genuíno, e foi aqui que publiquei os meus trabalhos há mais de trinta anos. Vivi em Santarém bastante tempo.
A cidade tem potenciado o capital monumental que lhe é reconhecido?
Não. Houve uma candidatura falhada a património mundial e há trabalho válido feito por historiadores locais, arqueólogos e arquitectos. Mas nunca houve um programa de conjunto, nunca houve um inventário levado ao detalhe, nunca houve uma política de abertura desse património à comunidade. Há que trabalhar muito a nível pedagógico e do turismo cultural.
Chamar a Santarém capital do gótico é um exagero?
É! Mas é bonito. Para mais vindo de quem vem. O dr. Virgílio Correia nos anos 20 era o maior explicador medievalista português e a sua autoridade era inquestionável. Encontrou em Santarém três ou quatro monumentos relativamente intactos e uma quantidade de vestígios dos períodos românico e gótico que justificavam o título, não tanto pelo que ficou mas pelo que houve.
O seu pai esteve na génese do Politécnico de Santarém quando lutou pela criação da universidade do Ribatejo que nunca chegou a vingar. Santarém perdeu aí uma grande oportunidade de se afirmar no contexto nacional?
Na altura foi uma enorme polémica. Mas olhando para a realidade do país onde proliferam as universidades e as faculdades verificamos que muito provavelmente aquele projecto não era uma utopia. E a cidade hoje seria diferente.
É um entusiasta das tradições ribatejanas?
Gosto da etnografia da borda de água, da vida piscatória, é algo que me apaixona. Tal como o fado. A tourada não. É um espectáculo que desde pequeno me criava engulhos. Tem um lado bárbaro e violento e não mudei a minha opinião.
Um historiador de arte procura ler, interpretar e devolver memória a arquitectura, escultura, pintura, têxteis, gravura. Isto é, tenta que o objecto de arte que teve já um papel determinado pela História em determinado momento - medieval, moderno ou contemporâneo -, volte a ter o papel de encantamento, de testemunho. Que volte a ter um papel de trans-memória relativamente ao público que olha para ele.
Esse conceito de trans-memória é muito caro para si.
A obra de arte é o único objecto criado pelo homem que é vivo. Tem uma dinâmica dialéctica, trans-contextual, que é permanentemente renovada porque vai gerando permanentemente novos públicos.
Cada época tem um olhar sobre a mesma obra de arte?
A obra de arte escapa ao autor e ao público. Não basta ao historiador de arte saber quem fez e quando, quem é que a encomendou, porque isso explica apenas uma pequena parte do problema. O grande problema é: o que é que a obra é?
É sempre um exercício subjectivo.
Pode haver margens de erro, mas deve haver o mínimo. O historiador deve ter rigor para interrogar a obra com objectividade, cumprindo a metodologia que lhe cabe, trabalho de laboratório, estudo comparativo. Mas é claro que a obra, por regra, é inesgotável. Toda e qualquer obra de arte é inesgotável.
O historiador de arte é o intérprete ou o mediador entre o autor e o público.
Perfeitamente. É um intérprete crítico, com um papel activo, mas tem que ter primeiro que tudo uma grande humildade relativamente ao objecto. Interrogá-lo, descobri-lo, desvendá-lo. E parar quando a obra não revela mais…
Como é que se atinge essa percepção de que não há mais significados escondidos?
O erro é humano e normal. Tentamos errar o mínimo...
Nunca fica com a sensação de que há em determinada obra mais qualquer coisa escondida?
Sim e é normal que se volte a ver obras que já vimos, que tivemos que estudar noutros momentos, e dar-lhes um bocadinho mais. Nós evoluímos e a própria obra pode revelar aspectos que não eram intuíveis num primeiro momento.
Houve algum bem artístico que lhe tenha dado especial prazer estudar?
Hoje (dia 21 de Maio) vou falar aqui em Santarém da Capela Dourada, porque é um monumento da minha terra adoptiva que vejo desde pequenino, com o meu avô, com o meu pai. É uma magnífica capela barroca praticamente ignorada pelos escalabitanos, que tem estado fechada ao público. É uma obra que encaixa bem na pergunta que me fez. Foi desdobrando o encanto à medida que fui crescendo também com ela. A talha, a pintura, os rodapés, os retábulos barrocos, é uma unidade extraordinária do melhor barroco português que está ali encafuado naquele pequeno templinho ao lado da igreja do antigo hospital.
Grande parte da sua vida profissional é virada para o passado. Até que ponto isso determina a sua forma de analisar e viver o presente?
Gosto de definir o meu trabalho como de contemporaneidade. Porque toda a obra de arte é contemporânea. Pelo menos no momento em que olho para ela, em que a convoco para o meu tempo e tento entender os fascínios, os mecanismos que a fabricaram e que continuam a gerar empatia, ou não, relativamente a ela.
Agora também é verdade que tenho dedicado a minha vida a estudar o maneirismo, o renascimento, o barroco como períodos mais privilegiados. O proto-barroco é um período notável em Portugal e no antigo império português na arquitectura, na arte decorativa…
Qual dessas modalidades gosta mais de estudar?
Tenho estudado mais pintura, porque era o parente pobre. Em Portugal há milhares de quadros, frescos, alguns de muito boa qualidade e era a matéria mais urgente.
Todos os regimes marcantes têm habitualmente correntes estéticas associadas. A arte é uma forma de cimentar as ideologias?
Contrariando a ideia de que o património nasce inevitavelmente ligado a um momento de estabilidade ou de maior poderio económico, muito frequentemente nasce na mais rebelde vanguarda, na mais inóspita periferia. O fenómeno criativo tem outro tipo de regras. Depende do génio criativo mas depende fundamentalmente de uma conjuntura de rebelião, de comprometimento ideológico, da luta por ideais. A arte tem ideologia.
Isso aliás ficou bem vincado durante o regime nazi na Alemanha ou na extinta União Soviética.
Aí é diferente. Hoje está na moda denegrir o contributo do comunismo para o mundo. Estamos numa época neo-liberal em que se dá ideia que o comunismo não deu nada de bom. Convém distinguir e lembrar que há um contributo muito importante da esquerda a nível mundial que não é compaginável com o estalinismo. Confundimos tudo. E, nomeadamente no campo artístico, aquilo que foi criado naquele país feudal e que quebrou as grilhetas da tirania com o partido bolchevique, foi extraordinário.
Com o estalinismo as coisas mudam.
O estalinismo veio quebrar o fio condutor da criatividade e reprimir os criadores. E criou um regime sem grande qualidade, como também não tinha no campo hitleriano aquela caricatura de arte que em nome do combate à chamada arte degenerada foi criado para elogiar o regime fascista alemão. Evidentemente, a arte é tão importante que pode legitimar as mais horríveis ideologias.
Fado sim, touradas não
O centralismo cultural de Lisboa atrofia o país?
Numa altura em que está na moda atacar o Estado por tudo e por nada, creio que o Estado democrático tem um papel a cumprir nomeadamente na política cultural. Tem de haver um dirigismo competente e coerente que o Estado não cumpre. Lisboa é atacada não por ter um controlo a mais, mas por ter a menos. Defendo que deve haver mais Estado na cultura.
Em que sentido?
Deve haver uma melhor gestão dos monumentos que estão a cair, do património móvel que é vilipendiado, da política de restauro que não é feita. Enfim, são tantos problemas… Estamos a falar de bens públicos que não têm ideologia, que não têm carimbo, que nos comprometem em termos de futuro.
O abandono a que está votado o convento de São Francisco, em Santarém, é um exemplo dessa postura.
Houve uma altura em que confiámos muito, quando a câmara de José Miguel Noras levou a cabo uma tentativa de estudo integrado e um arranque do restauro que infelizmente não foi avante. Essa é uma das muitas nódoas que existem em Santarém a nível do património.
Que ligações tem com Santarém?
É a minha terra adoptiva. Aprendi a gostar muito dela com o meu avô, que era um ribatejano genuíno, e foi aqui que publiquei os meus trabalhos há mais de trinta anos. Vivi em Santarém bastante tempo.
A cidade tem potenciado o capital monumental que lhe é reconhecido?
Não. Houve uma candidatura falhada a património mundial e há trabalho válido feito por historiadores locais, arqueólogos e arquitectos. Mas nunca houve um programa de conjunto, nunca houve um inventário levado ao detalhe, nunca houve uma política de abertura desse património à comunidade. Há que trabalhar muito a nível pedagógico e do turismo cultural.
Chamar a Santarém capital do gótico é um exagero?
É! Mas é bonito. Para mais vindo de quem vem. O dr. Virgílio Correia nos anos 20 era o maior explicador medievalista português e a sua autoridade era inquestionável. Encontrou em Santarém três ou quatro monumentos relativamente intactos e uma quantidade de vestígios dos períodos românico e gótico que justificavam o título, não tanto pelo que ficou mas pelo que houve.
O seu pai esteve na génese do Politécnico de Santarém quando lutou pela criação da universidade do Ribatejo que nunca chegou a vingar. Santarém perdeu aí uma grande oportunidade de se afirmar no contexto nacional?
Na altura foi uma enorme polémica. Mas olhando para a realidade do país onde proliferam as universidades e as faculdades verificamos que muito provavelmente aquele projecto não era uma utopia. E a cidade hoje seria diferente.
É um entusiasta das tradições ribatejanas?
Gosto da etnografia da borda de água, da vida piscatória, é algo que me apaixona. Tal como o fado. A tourada não. É um espectáculo que desde pequeno me criava engulhos. Tem um lado bárbaro e violento e não mudei a minha opinião.
Fonte:
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Expo2008: Mitologia angolana presente em Zaragoza
Zaragoza, Espanha, 28/05 (Do enviado especial) - Algumas figuras da mitologia angolana ligadas às águas e ao ambiente vão ser retratadas ou descritas no Pavilhão de Angola na "Expo2008", a decorrer de 14 de Junho a 14 de Setembro do ano em curso, na cidade espanhola de Zaragoza, informou hoje, quarta-feira, à Angop uma fonte oficial.Segundo Fineza Teta, directora do Pavilhão de Angola na Expo, para ornamentar os sete momentos da exposição, a organização achou por bem seleccionar algumas figuras mitológicas ou lendárias do país, exemplificando com a Kianda (Sereia), o Jacaré Bangão e o Bakama.A selecção destas figuras, disse Fineza Teta, deve-se ao facto delas estarem ligadas à água e ao ambiente."O Pavilhão de Angola terá como grande atractivo a água. Onde for água do mar estará presente a Kianda, se for rio estará o Jacaré e se tratar-se de uma floresta o Bakama", realçou a fonte da Angop que não deixou de referenciar as dificuldades de credenciamento criadas pela organização dada a rigorosidade dos funcionários de Angola à Expo, inclusive do pessoal ligado à segurança e expositores já presentes em Zaragoza. A fonte explicou que a escolha da Kianda (Sereia) deveu-se à relação com o mar que lhe é atribuída pela população da Ilha de Luanda, a eleição do Jacaré resultou da lenda segundo a qual, no passado, um animal da espécie abandonara o rio Dange, na província do Bengo, para ir pagar o imposto.O Bakama, figura quase que omnipresente em qualquer manifestação cultural na província de Cabinda, foi opção para a sua presença nesta exposição mundial devido as suas "virtudes ecológicas", que lhe permitem interagir com outros seres vivos (plantas e animais) sem ferir o ambiente e por "trajar-se" de materiais (folhas secas de bananeira) biodegradáveis. Elas defendem a causa do ambiente.O Pavilhão de Angola na Expo2008, em Zaragoza, Espanha, será composto por sete painéis, que vão reflectir a importância da água no contexto do tema que o país escolheu para debate no evento: "A Água como Recurso hídrico.O espaço terá igualmente uma galeria de artes que oferecerá produtos culturais, nas suas várias vertentes de manifestação, nomeadamente, pinturas, gravuras e esculturas que vão reflectir o tema da exposição: a água.Outras disciplinas do mosaico cultural angolano, como a dança, a música, o teatro e a gastronomia, constam igualmente do programa dos organizadores do Pavilhão de Angola.O pavilhão de Angola na Expo2008 é o maior de todos os tempos com uma dimensão de 468 metros quadrados e é o único que não está no pavilhão de África. O recinto de Angola não está no condomínio africano pelo facto da comunicação ter chegado ao país quando já se tinha dimensionado o espaço reservado ao continente. Neste sentido foi cedido a Angola um espaço maior, em função da perspectiva da amostra.As participações de Angola são organizadas por um comité coordenado por um comissário. Na exposição de Saragoça é comissária a assessora do Presidente da República para os Assuntos Regionais, Albina Assis. Esta é a quarta participação de Angola numa exposição internacional do género.
Uíge: Sector da Educação distribui material escolar aos alunos primários
Uíge, 28/5 - O sector de Educação na província do Uíge iniciou recentemente a distribuição gratuita de manuais escolares aos alunos das escolas primárias da região, disse hoje, quarta-feira, à Angop, nesta cidade, o director provincial da Educação, António Mucanza Kangudi. De acordo com o responsável, o sector recepcionou 338 mil e 709 manuais para a iniciação a 7ª classe e 257 mil e 459 outros manuais para o ensino primário inserido na reforma educativa, assim com 15 mil fichas de iniciação. António Mucanza Kangudi revelou que estes manuais já foram distribuídos a 12 dos 16 municípios da província, faltando apenas Kimbele, Damba, Sanza Pombo e Maquela do Zombo. O sector recebeu manuais para as disciplinas de Português, Matemática, Estudo do Meio, Ciências, História, Geografia e Educação Moral e Cívica.
Curso de Educação pela Arte
Inscrições abertas para o Curso de Educação pela Arte “Espaços e Práticas Criativas” em São Miguel
As inscrições para o Curso de Educação pela Arte “Espaços e Práticas Criativas” abrem hoje, no Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada.
Esta formação, que decorre nos dias 14 e 15 do próximo mês de Julho no Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, visa debater, reflectir e experimentar processos pedagógicos no âmbito da educação artística e da criatividade, adaptados aos contextos do ensino não formal, especificamente direccionados para crianças dos 6 aos 12 anos de idade.O curso, de concepção e orientação de oficinas de Artes Plásticas para crianças, será ministrado por Sara Barriga, licenciada em Artes Plásticas/Escultura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, pós graduada em Museologia e Património, e destina-se a pais, professores e educadores, nomeadamente do ensino pré-escolar, 1º e 2º ciclos, bem como a técnicos e outros agentes da acção educativa.Envolvendo conteúdos teóricos e práticos, a iniciativa abordará os fundamentos da expressão plástica relacionada com a criatividade das crianças, introduzindo o formando na experimentação/exploração lúdica/criativa de diferentes materiais e técnicas.O papel do educador no estímulo do processo criativo, estratégias de motivação, adequação de metodologias pedagógicas, conjugação de materiais e técnicas em função de objectivos específicos e modos de aproximação e interpretação de modelos, são alguns dos temas orientadores do curso que abrange um total de 10 horas.
As inscrições para o Curso de Educação pela Arte “Espaços e Práticas Criativas” abrem hoje, no Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada.
Esta formação, que decorre nos dias 14 e 15 do próximo mês de Julho no Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, visa debater, reflectir e experimentar processos pedagógicos no âmbito da educação artística e da criatividade, adaptados aos contextos do ensino não formal, especificamente direccionados para crianças dos 6 aos 12 anos de idade.O curso, de concepção e orientação de oficinas de Artes Plásticas para crianças, será ministrado por Sara Barriga, licenciada em Artes Plásticas/Escultura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, pós graduada em Museologia e Património, e destina-se a pais, professores e educadores, nomeadamente do ensino pré-escolar, 1º e 2º ciclos, bem como a técnicos e outros agentes da acção educativa.Envolvendo conteúdos teóricos e práticos, a iniciativa abordará os fundamentos da expressão plástica relacionada com a criatividade das crianças, introduzindo o formando na experimentação/exploração lúdica/criativa de diferentes materiais e técnicas.O papel do educador no estímulo do processo criativo, estratégias de motivação, adequação de metodologias pedagógicas, conjugação de materiais e técnicas em função de objectivos específicos e modos de aproximação e interpretação de modelos, são alguns dos temas orientadores do curso que abrange um total de 10 horas.
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Arte e Educação
terça-feira, 27 de maio de 2008
Mundo: Artista iraquiano torturado em performance contra a tortura
Um iraquiano foi recentemente torturado em Nova Iorque. Era ele ou o cão Buddy - a decisão coube às 4300 pessoas que votaram no site DogOrIraqui.com. O artista não o disse, mas deu a entender que a votação não foi absolutamente transparente e que o desfecho já estava decidido à partida. A iniciativa foi organizada pelo Torture Choice, um grupo americano de protesto contra a tortura. Ler mais no PÚBLICO.
Descoberto poema inédito atribuído a Alberto Caeiro
"Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas." Este é o último verso de um poema inédito atribuído a Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, e encontrado na última página de um livro que pertenceu a Pessoa pela equipa que está a digitalizar o espólio do poeta. O livro estava na casa que ocupa o nº 16 da rua Coelho da Rocha e só por acaso não foi detectado antes. "O poema está manuscrito e tem como cabeçalho a palavra Caeiro sublinhada", disse ao DN Patricio Ferrari que, a par com Jeronimo Pizarro, dirige a equipa que está a passar a formato digital toda a biblioteca que pertenceu a Fernando Pessoa, não apenas da Coelho da Rocha, como os papéis ainda nas mãos da família do poeta. O poema foi encontrado a 30 de Abril pelo italiano Antonio Cardiello. "Foi uma descoberta inesperada", declarou Jeronimo Pizzarro,que só gastaria de ver o poema divulgado depois de" devidamente" estudado por especialistas na obra de Caeiro. Por enquanto levanta dúvidas. "Apesar da linguagem ser a de Alberto Caeiro e de o poema ser precedido pelo nome Caeiro, tanto pode ser o título como a assinatura. Além disso está num livro datado de 1907 quando sabemos que aquele heterónimo só apareceu em 1914." As cautelas de Pizarro, o investigador que já transcreveu o poema, são partilhadas por Patricio Ferrari. Um e outro opõem-se à intenção de Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, de fazer postais com réplicas do manuscrito para celebrar os 120 anos do nascimento de Pessoa, que se comemoram a 13 de Junho. Sem querer divulgar a temática e mantendo para já o manuscrito bem guardado, os dois académicos defendem que ele deve ser divulgado de pois de devidamente contextualizado e em simultâneo com toda a marginália de Pessoa, também inédita e onde, por exemplo, foram encontrados em dois livros diferentes, dois horóscopos de Mussolini feitos pelo poeta. "A biblioteca de Pessoa é muito original. Ele anotava os livros, escrevia filosofia, prosa, poesia. Temos uma espécie de segundo ou terceiro espólio que nasce nos livros que ele costumava ler. Não sabemos sequer se este poema será o mais importante", salienta Jeronimo Pizarro. Nem o poema agora encontrado nem os livros estão no lote que irá a leilão em Outubro, pela P4 Photography, e que temem venha a cair nas mãos de estrangeiros e a dispersar-se. Sobre este tema e sabendo que as suas palavras podem ser usadas para especular preços, Pizarro limita-se a dizer que é algo valioso. "Nunca nenhum papel de Pessoa foi a leilão", lembra. Os anteriores 27 mil foram comprados em 1979 pelo Estado e estão na Biblioteca Nacional. Quanto a estes 800 que a família do poeta decidiu levar a leilão, Pizarro salienta que eram desconhecidos então. "O Estado pensava estar a comprar tudo o que era de Pessoa." Não estava. O DN contactou o Ministério da Cultura que, para já, quer mais detalhes sobre o lote que contém o chamado dossier Pessoa-Crowley. Por sua vez Inês Pedrosa não tem dúvidas: "O Governo tem a obrigação de salvaguardar esse património." Isso e os cerca de 140 livros ainda na posse da família , acrescenta Ferrari. "Todos têm marginália importante que nunca foi totalmente trabalhada."
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