quinta-feira, 20 de março de 2008

Robôt português artista?


Robô português mostra primeiras obras de arte realizadas em Nova Iorque

Desde Fevereiro de 2007, que o robô RAP (Robotic Action Painter) gera composições originais, decide por si próprio quando o desenho está pronto e assina no canto inferior direito como qualquer artista humano. A performance deste robô artista tem tido lugar no Museu de História Natural de Nova Iorque, exposto na sala dedicada à evolução da humanidade , dentro de uma vitrina, em permanente actividade criativa. Os primeiros 12 desenhos deste artista robótico poderão ser vistos em Portugal, na Galeria LEONEL MOURA Arte, em Abril. De acordo com o seu criador, o artista plástico Leonel Moura, “os desenhos são abstractos e muito elementares”. “No essencial revelam uma ou mais concentrações de riscos e cores em determinadas áreas, enquanto o resto é deixado com pouca expressão pictórica”, revela o artista, acrescentando que os desenhos “fazem lembrar simples garatujas de crianças, mas também aglomerados urbanos ou galáxias”.“De qualquer modo, por muito primitiva que seja, esta criatividade é profundamente original, adianta Leonel Moura, em comunicado. Tal como sugeria Norbert Wiener, o pai da cibernética, se queremos permitir a emergência de uma criatividade das máquinas é preciso “retirar o factor humano do processo”. E RAP que se encontra a milhares de quilómetros de distância do seu criador, o qual não tem qualquer meio de o influenciar ou manipular, gera desenhos baseados na sua própria percepção do mundo.Ainda segundo Leonel Moura, “o processo criativo de RAP não é exclusivamente aleatório, ainda que este, à semelhança dos mecanismos biológicos, tenha um papel fundamental na produção de decisões”. “Há de facto, para além disso, a expressão de uma criatividade própria, através de processos descritos pelas teorias da complexidade, da auto-organização e da emergência”, continua o artista.Estamos assim perante uma das primeiras manifestações – assente numa base científica sólida – de uma criatividade produzida por uma entidade não-humana e não-natural. Estes desenhos são a expressão de uma nova revolução na arte, que abre o caminho a uma “criatividade artificial”, na sequência do que já hoje é plenamente aceite sob a designação de “inteligência artificial”.A inauguração da exposição dos primeiros 12 desenhos do RAP acontece na Galeria LEONEL MOURA Arte, dia 7 de Abril, às 21h00.Imagem: http://www.leonelmoura.com/rap.html
Leonel Moura é um dos grandes artistas deste cantinho Português. Agora não deve confundir termos que são exclusivos do Humano (Criatividade e percepção) e actividades que os robôts executam com um programa elaborado pelo artista (Humano), mesmo que esteja a quilómetros de distância. Veja-se o que fazem os satélites... arte é exclusiva do HUMANO. É isso , a ARTE o que nos diferencia dos outros seres! (José Vieira)
A resposta que Leonel Moura teve a gentileza de me enviar e que agradeço.
Obrigado pelo seu email.
É evidente que a definição de um conceito pode determinar os limites do mesmo. Quando diz que a arte é uma actividade exclusiva do humano, está tudo dito e implica que não se pode considerar arte a produção animal ou de máquinas. No entanto se há algo que caracteriza o pensamento moderno, e acima de tudo a própria arte, é precisamente a ampliação das fronteiras conceptuais. Basta recordar que, até há pouco, também a inteligência era uma qualidade exclusiva dos humanos. Mas hoje reconhece-se que existe uma inteligência animal e uma inteligência artificial. A minha proposta reside precisamente em que se considere agora a existência de uma criatividade artificial. Em muitos aspectos semelhante à nossa, mas noutros distinta já que fruto, no caso dos robots, de um corpo autónomo, com capacidade de percepção ambiental (sensores) e um tipo de "raciocínio" não linear.É aliás este o ponto menos compreendido nos meus projectos. O que não admira já que se trata de uma ciência muito recente. Isto é, o programa que eu introduzo nos robots não visa levá-los a realizar tarefas determinadas, mas antes proporcionar os meios para que possam decidir por si mesmos (neste sentido é o oposto dos satélites)e pode ser comparado aos genes que os nossos pais nos transmitem, mas onde não está nada por exemplo sobre que profissão vamos seguir na vida. Por outro lado, está claro que estamos ainda nos primórdios da inteligência, criatividade e consciência artificiais, mas precisamente por isso estes primeiros passos são tão fascinantes. Os desenhos que RAP fez em Nova Iorque são simples garatujas, mas onde se detecta claramente uma composição, uma estética, uma arte. Eu olho e vejo a caverna de Lascaux dos robots. Por fim só uma questão mais filosófica. Porque sente necessidade de se diferenciar dos outros seres? Eu pelo contrário sinto vontade de me considerar uma simples parte de um todo que é mais do que a soma das suas partes.
Cumprimentos
Leonel Moura

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