Infiel e fanfarrão marido da frágil e doente Kahlo, muito mais famoso em vida que a sua jovem mulher, Diego Rivera chega a ser apresentado, em registos enciclopédicos, quase só como "o marido de Frida". A recente passagem do cinquentenário da sua morte (24 de Novembro de 1957) está, no entanto, a despertar um novo interesse pela obra do muralista mexicano. Aquele movimento, em que participa com Orozco e Siqueiros, é considerado por James Maples "um dos fenómenos mais intrigantes da pintura do século XX", pela forma como acaba por conciliar uma resposta aos ideais comunistas com uma liberdade formal e estética sem paralelo, por exemplo, na URSS.Ao contrário de Siqueiros e Orozco, nos anos da revolução de Zapata e Pancho Villa, que ele irá imortalizar com os seus pincéis, Rivera viveu, entre 1909 e 1920, na Paris de Picasso e de Juan Gris. Nessa época, contactou com os frescos dos renascentistas italianos a ponto de Jorge Volpi escrever, no El País, que "o comunismo ocupou para ele um espaço idêntico ao da Igreja Católica para os seus antecessores, e o seu panteão de heróis revolucionários rivaliza com a vasta iconografia religiosa". Acerca de Diego, nas últimas décadas, têm sido destacados dois aspectos: a sua relação machista com Frida e um assumido comunismo impresso na obra. No primeiro caso, aquela relação entre "o elefante e a pomba", essa alusão ao corpanzil do muralista das grandes dimensões e à magreza da pintora das telas pequenas, chega ao ponto de Rosa Montero, ao escrever sobre Khalo, o definir como um "cara de batráquio", "personagem inqualificável" e de comportamento "abominável". Ora, "Fisita", como Frida assinava as cartas e os recados que lhe mandava, apesar das mútuas traições conjugais, tratava-o com expressões como "meu amor", "menino dos meus olhos" ou "amor de todos os corações".Sobre a sua filiação estilística, no decorrer dos anos, como escreve Andrea Kettenmann na monografia que fez para a Taschen e onde o considera um "artista fora de série", a obra de Rivera acabou "por ser vista insepara- velmente ligada ao realismo socialista". E esse juízo pode ser precipitado. "O estilo dos seus murais", sustenta, "até mesmo a sua estética, baseada nos seus estudos de frescos renascentistas italianos, das proporções clássicas, das formas das esculturas pré-colombianas, do espaço cubista e da representação futurista do movimento, têm, ao fim e ao cabo, pouco em comum com o realismo socialista."E talvez seja agora tempo de se redescobrir Diego Rivera. Afinal, como conclui a monografia, ele "criou imagens universais que ainda hoje impressionam".
domingo, 27 de janeiro de 2008
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