quarta-feira, 21 de maio de 2008

Educação: Falta de apoio até aos 3 anos e pobreza são principais obstáculos no ensino infantil


"As famílias mais pobres e portanto as crianças mais pobres não têm a riqueza dos contextos que lhes permitem o desenvolvimento", explicou Isabel Alarcão, coordenadora do estudo "A educação das crianças dos 0 aos 12 anos", realizado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Sendo a pobreza apontada como o principal inimigo da educação, Isabel Alarcão defendeu hoje, na apresentação do estudo, que é fundamental "organizar contextos que ajudem as famílias e as crianças a ter ocasião para o seu desenvolvimento e há que conjugar políticas assistenciais à família com politicas educativas".
Isabel Alarcão deu o exemplo das creches e do ensino pré-primário para defender que "para além de uma intenção assistencial", passe a existir "uma intenção educativa" e que se criem "condições para as crianças realizarem, actividades que sejam actividades que as desenvolvam".
O estudo revela também que são as crianças com menos idade que sofrem de maior falta de apoio no ensino.
"Nas escolas nota-se alguma falta desse apoio, até porque as necessidades também são muito grandes, mas vai havendo algum apoio. Mas onde se nota mais falta é sobretudo entre os 0 e os 3 anos que é um período crítico do desenvolvimento da criança e portanto as crianças não podem ser abandonadas ou pouco cuidadas porque é um período vital", lembrou a coordenadora do estudo.
O presidente do Conselho nacional da Educação, Júlio Pedrosa, afirmou por seu turno que o apoio que existe para crianças dos 0 aos 3 anos é sobretudo na esfera da Segurança Social, "enquanto e as condições para o desenvolvimento das crianças em ligação com a sua educação não fazem parte do nosso modelo".
"Há uma recomendação do estudo no sentido de essas duas dimensões sociais, de saúde e de desenvolvimento educativo, passarem a ser consideradas", disse Júlio Pedrosa, ressalvando, no entanto, que "não é apenas nas mãos do Governo que deve ficar o reforço dos apoios a essas crianças".
"O facto de o estudo nos dizer que esta é uma idade crítica do desenvolvimento das crianças, que o modelo que escolhemos não é o modelo mais adequado e que faz sentido repensá-lo, e que também não é apenas da esfera da responsabilidade do Governo, que é das famílias, que é da sociedade em geral, creio que são também contributos a ponderar", sublinhou.
O estudo do CNE recomenda a fusão dos 1º e 2º ciclos do ensino básico para acabar com "transições bruscas", mantendo apenas um professor nos 5º e 6º anos, progressivamente apoiado por outros docentes em pelo menos duas áreas.
O novo ciclo de seis anos sugerido pelo estudo pretende "neutralizar as transições bruscas identificadas ao nível da relação dos alunos com o espaço-escola, as áreas e os tempos de organização do trabalho curricular, a afiliação dos professores, o seu papel de aluno e com o desenvolvimento gradual das competências esperadas".
Em entrevista à Agência Lusa em Fevereiro, a ministra da Educação anunciou que, no âmbito da revisão do currículo do 2º ciclo, o Governo vai concentrar algumas disciplinas para reduzir o número de docentes a leccionar em cada turma.
A ministra explicou que as escolas nunca puseram em prática um mecanismo que permitia que um só professor leccionasse um conjunto de disciplinas à mesma turma, como Matemática e Ciências ou Língua Portuguesa e Inglês, por exemplo, apesar de o currículo prever essa possibilidade.
O estudo apresentado hoje reconhece, no entanto, riscos com a fusão dos dois primeiros ciclos do básico: uma possível descoordenação das equipas multidisciplinares e uma eventual influência disciplinar e académica dos actuais professores do 2º ciclo (alunos dos 06 aos 09 anos) sobre os do 1º (10 e 11 anos), entre outros.
O documento recomenda ainda a profissionalização das amas, uma melhor oferta de ocupação de tempos livres e uma articulação entre serviços sociais e serviços educativos.
SMS/MLS.
Lusa/Fim
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.2008-05-20 14:35:01

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