segunda-feira, 24 de março de 2008

AVEIRO PREMIADA POR SALVAR ARTE NOVA

O restauro da antiga Capitania de Aveiro, concluído em 2004, alertou as consciências e inverteu uma tendência para a degradação do património em estilo Arte Nova da cidade da ria. O esforço de preservação da Arte Nova teve agora reconhecimento internacional com a aceitação da candidatura de Aveiro à rede internacional de cidades "Réseau Art Nouveau Network". Aveiro tornou-se a 20ª cidade de um grupo restrito e influente onde se incluem Barcelona, Bruxelas, Budapeste, Glasgow, Helsínquia e Habana.

A pressão de forças vivas e o apoio de personalidades como Siza Vieira ou José-Augusto França mobilizadas pela estudiosa Maria João Fernandes, bisneta de Francisco da Silva Rocha, o arquitecto a quem se deve a autoria de alguns dos imóveis Arte Nova mais significativos na região, foi decisiva para a mudança. Aveiro assistiu, desde 2004, a obras de preservação de alguns dos muitos imóveis com traços Arte Nova que existem em várias artérias urbanas. O envolvimento público prosseguiu com a aquisição por parte da autarquia da chamada casa do Major Pessoa para instalação de um museu Arte Nova, prestes a ser inaugurado.

Alguns privados seguiram o exemplo, como aconteceu já com os exemplares restauros da fachada do edifício das "Quarto Estações" ou da residência do arquitecto Francisco Silva Rocha, que chegou a colaborar com Ernesto Korrodi.

Aveiro não ficou à margem das influências internacionais da Arte Nova mas evidencia alguns particularismos na sua representação, com os artistas locais a incluírem materiais tradicionais na decoração de fachadas, como é o caso do uso do azulejo de mestres como Licínio Pinto e Francisco Pereira.

A 30 de Novembro de 2007 passaram 100 anos após a emissão da licença camarária de construção da casa do major Mário Belmonte Pessoa, da autoria da dupla Francisco da Silva Rocha e Ernesto Korrodi. Localizada próximo do Jardim do Rossio, vai acolher este ano a exposição intitulada "Arte Nova e os Aveirenses", que marcará a inauguração do restauro cujo custo ultrapassou 1,5 milhões de euros.

"Agora será devolvida aos aveirenses cumprindo a estratégia museológica de ser um pólo Arte Nova dentro do Museu da Cidade", afirmou o vereador Miguel Capão Filipe. A concepção do interior é do designer Francisco Providência, professor do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro. A Casa Major Pessoa terá uma casa de chá "Belle Époque", com exposição permanente interactiva e Laboratório de Ideias. A autarquia está a recolher peças inspiradas pela Arte Nova na posse de privados.

Mas há ainda trabalho por fazer. A fachada do número 146 da Rua Almirante Cândido dos Reis esconde as mazelas do interior. A degradação das paredes e dos estuques artísticos dos tectos tornam evidente a necessidade de obras de restauro. Os inquilinos que ali vivem há longa data não raramente são forçados a abrir a porta a turistas atraídos pelo colorido das flores desenhadas em azulejos Fonte Nova de 1911. A câmara tem "implorado" para não se mexer em nada, mas ninguém se chega à frente para "aguentar isto em pé".

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