Educar para a sexualidade - já!
Artigo no âmbito da colaboração Visionarium/ Ciência Hoje:: 2006-01-27 Por Por Oriana Geada
Os jovens portugueses têm uma iniciação sexual mais precoce do que as gerações anteriores. Os conhecimentos que possuem sobre sexualidade, provindos das fontes mais díspares são, na maioria dos casos, insuficientes e desfasados da realidade. A maioria das famílias não propicia o conjunto de saberes que um jovem deve possuir para desfrutar plenamente a sua sexualidade. Esta constrói-se e aprende-se como parte integrante do desenvolvimento da personalidade.
As estatísticas revelam que Portugal é o 2º país da Europa com maior número de adolescentes grávidas, apenas suplantado pelo Reino Unido, destacando-se também no quadro europeu do aborto clandestino. Na Europa, a incidência de doenças sexualmente transmissíveis diminuiu, mas em Portugal subiu. Mais de 40% dos portugueses nem sempre usa preservativo em relações sexuais ocasionais, ou quando têm mais do que um parceiro sexual, e 20% admite nunca o utilizar. Ultimamente Portugal tem registado melhorias significativas nos indicadores relativos à saúde sexual e reprodutiva. O aumento do uso de métodos contraceptivos, a diminuição da gravidez na adolescência e a melhoria dos indicadores de saúde materno-infantil são disso exemplo.
A Educação Sexual (ES) na escola assume um papel fundamental na formação dos jovens, que nenhum dos outros agentes de socialização consegue cumprir, pois é um espaço onde as abordagens são estruturadas e os saberes são avaliados. A escola não pode, todavia, substituir o papel da família neste processo, pois ambas são contextos de aprendizagem e socialização. A articulação escola-família é sempre desejável e fundamental para a ES dos jovens.
A ES deve promover uma abordagem integrada e transversal, enquanto dimensão essencial do percurso educativo e formativo dos jovens, implicando a articulação da escola com outros agentes educativos: famílias, profissionais da área da saúde e serviços especializados de apoio educativo. A escola – lugar de construção de saberes – suscita vivências ao nível afectivo-sexual, quer pelas iniciativas desenvolvidas, quer pelo ethos que orienta o seu quotidiano, pelo que a ES não pode limitar-se a aspectos meramente informativos. Devem debater-se ideias sobre valores e facultar-se aos jovens dados necessários para que definam as suas opções. Estes devem assumir um papel activo e participativo, manifestado desde a planificação das actividades, passando pela pesquisa de informação, pela condução dos debates, até à avaliação de todo o percurso e dos resultados alcançados.
Pela componente de intimidade que a sexualidade envolve, é fundamental que se estabeleça uma boa relação pedagógica professor/aluno, que propicie o à-vontade suficiente a uma abordagem facilitadora de interrogações e opiniões, conduza à resolução de dúvidas e à superação de dificuldades e contribua para uma perspectiva positiva da sexualidade. Nem sempre é fácil, pois debater certos temas com o à-vontade que eles exigem requer dos professores segurança e ausência de julgamentos de valor. Itens como “Amor” e “Métodos Contraceptivos” são abordados mais facilmente; o mesmo não se pode dizer de itens como “Aborto”, “Homossexualidade”, “Sexo oral e anal”. Além dos tabus sociais e do receio da “censura” dos pais, nota-se falta de formação e de segurança em si próprios.
A ES na escola não deve ser entendida como uma panaceia que assegure um futuro sem problemas. A sexualidade, como componente da intimidade, é um processo de construção individual, com dúvidas, hesitações e tomadas de decisão, feito de experiências e aprendizagens, positivas e negativas, podendo a escola contribuir para que esse caminho seja feito da forma mais construtiva e contribuir para uma vivência mais informada, gratificante e responsável da sexualidade.
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