"Quem pinta, pinta-se". João Dixo “pinta uma trans-aparência autobiográfica”, (1) metapintando-se individualmente, mas também atingindo o universal ”Quem assim (se) pinta, não (se) pinta, pinta a pintura, pinta a vida.” (2) não para pintar imagens autobiográficas, mas tornando visível a Pintura em acção ao nosso olhar.As suas telas não são só o figurado, são opções mágicas onde se misturam tintas, pincéis, sonhos, pesadelos, mãos, amarguras, alegrias, prazeres, segredos. "A pintura diverte-me, emociona-me, comove-me, dá-me imenso prazer e muito sofrimento" - diz, referindo-se indistintamente ao acto e ao efeito de pintar.
O quadro em causa segue esta forma de estar na pintura, na tintura, diria João Dixo, essa mistura na tela de cores/ tintas e colagens que partindo sempre da matéria se desenvolve e nos transporta para mundos oníricos, viagens espaciais (vermo-nos por fora), revela-nos a nossa insignificância em termos cósmicos. A velha ideia “o homem medida de todas as coisas”, como ponto de partida, deixa de ter significado deixa de ter sentido. “ o homem deixa de ser a medida do mundo” (3) A obra aqui condensa essa capacidade de expressão individual numa dimensão cósmica. O artista apresenta-se aqui como uma espécie de interface entre o individual, o visível e o invisível, o cósmico. Esta obra permite-nos a experiência estética do olhar e da sensibilidade. Partindo de cores, tintas e colagem de pedaços de jornal, materiais finitos, pobres, irrisórios, leva-nos a viajar para a dimensão do macro, do infinito, para um lugar que já não é da dimensão humana. Deixamos de ver o EU para passarmos a ver o D(EUS).
(1) Armando Azevedo
(2) Armando Azevedo
(3) Abel Salazar
José A.C. Vieira
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