quinta-feira, 13 de março de 2008

O Surrealismo


A partir do dia 15 de Março de 2008, o Centro de Estudos do Surrealismo tem patente na sua sede na Fundação Cupertino de Miranda (Vila Nova de Famalicão) a exposição O Surrealismo na Colecção Fundação Cupertino de Miranda I. A exposição apresenta 96 obras (pinturas, desenhos, fotografias, objectos e esculturas) do acervo da colecção do Centro de Estudos do Surrealismo – Fundação Cupertino de Miranda nas múltiplas variantes linguísticas, genéricas, temáticas e técnicas da produção plástica, dos autores que protagonizaram a aventura da intervenção surrealista em Portugal.

Assim, e num rápido passeio pelos labirintos do ver, do sentir, do sonhar e do dizer, dos artistas representados, poderá o visitante encontrar as seguintes presenças familiares:

Carlos Eurico da Costa e os seus desenhos de fragmentos e ruínas de seres, ruas, edifícios e objectos resgatados da mítica e alucinada cidade de Palagüin.

O surrealismo-expressionismo do Júlio, dos anos 30, e um percurso de singularidade de Manuel D’Assumpção.

Uma das raras obras plásticas conservadas de Alexandre O´Neill, o poeta daquele “adeus português” que tão bem soube traduzir o naufrágio do amor, da liberdade, do desejo, da poesia – isto é, do Surrealismo.

Algumas poucas obras de Alfredo Margarido, Fernando Alves dos Santos e Fernando José Francisco (hoje “ressuscitado” e de quem Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas sempre disseram ser o mais dotado do seu grupo para as artes plásticas).

António Pedro e António Dacosta, deste último quatro obras, e do primeiro cinco, das quais quatro doadas pelo seu íntimo amigo José-Augusto França. E do “grupo” por eles animado – um dos dois em que acabou dividido o núcleo inicial do Surrealismo português – uma obra de Cândido Costa Pinto e outra de João Moniz Pereira, bem como duas de Marcelino Vespeira, todas bem representativas dos mundos intelectuais, sentimentais e estéticos dos seus respectivos autores.

António Maria Lisboa, o “timoneiro” da nau dos novos argonautas – como disse dele outro dos autores aqui bem representados, Risques Pereira – que morreu jovem de mais e de cuja obra só nos deixou à morte fragmentos, tentativas e iluminações fulgurantes.

Pedro Oom e Mário Henrique Leiria, talvez mais conhecidos pela sua poesia lírica, o que é particularmente injusto no caso dos artistas surrealistas, que nunca aceitaram fronteiras entre as muitas maneiras de tentar traduzir a experiência da vida.

Linguagens diferentes da pintura e do desenho, como a escultura – que tem no Surrealismo português um nome luminoso, Isabel Meyrelles, com os seus fantásticos bestiários metamórficos – ou a fotografia, com Fernando Lemos inaugurando rupturas sucessivas numa linguagem particular.

Contribuir para a preservação da memória do Surrealismo português, na evidência material das suas produções artísticas, eis um dos objectivos desta exposição. Lembrar e homenagear através delas a aventura fáustica dos seus autores, eis um segundo objectivo. Mas cumpre sublinhar um terceiro objectivo, mais profundo e mais importante, embora menos evidente: ajudar a manter acesso o sonho de transformação coincidente do "homem interior" e do "homem exterior" que sempre presidiu a vida - e às vezes avançou a morte - dos homens e mulheres que lutaram e lutam por ser alguma coisa mais do que simples "cadáveres adiados que procriam".

Mecenas: Millennium BCP

Comissários: Perfecto E. Cuadrado e António Gonçalves

1 comentário:

amor liberdade poesia disse...

A Fundação Cupertino de Miranda adquiriu 60 obras figurativas e abstractas de Eurico Gonçalves, caso isolado no panorama do surrealismo português, que não deixa de ser referenciado na perspectiva histórica de vários autores, nomeadamente Mário Cesariny, José-Augusto França, Cruzeiro Seixas, Ernesto Sampaio e Perfecto Cuadrado, entre outros, que reconhecem a influência do Surrealismo na sua obra. Pergunta-se: porque será que o seu nome é sistematicamente omitido por essa Fundação, nas notícias divulgadas???!!!!